“A inflação quando nasce não é para todos!” — Os oligarcas lusos que o digam…

A passos largos vão os hipermercados, a banca e as energéticas.  Nos primeiros seis meses do ano, a Sonae (Continente) duplicou os lucros, em relação a 2021; a Jerónimo Martins (Pingo Doce) aumentou os lucros em mais de 40% (278 milhões de euros). Os seis maiores bancos quase que já duplicaram os lucros (1,3 mil milhões no primeiro semestre), em relação a 2021. A EDP teve lucros de 306 milhões de euros (M€). A EDP Renováveis aumentou os lucros em 87% (265 M€). A GALP, do Grupo Américo Amorim, lucrou 420 M€.

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  • 8:52 | Terça-feira, 25 de Outubro de 2022
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Os aumentos desmesurados dos preços dos bens de primeira necessidade, a começar pelos produtos alimentares, e o aumento do número de famílias que pedem ajuda, levaram a Cáritas de Portalegre e Castelo Branco a anunciar publicamente, no final de Setembro, que já retirou a carne, o peixe e o azeite do seu cabaz básico entregue regularmente a 60 famílias “em idade activa, com trabalhos precários ou rendimentos insuficientes” e que é esperado um agravamento desta insuficiência nos próximos tempos.

Na penúltima crónica, de 8.09.2022, aludi às gritantes desigualdades sociais em Portugal, com 2,3 milhões de portugueses pobres, sendo que 540 mil são trabalhadores que, apesar de empregados, não conseguem escapar da situação de pobreza. Ora, tal injustiça social não se resolve com medidas assistencialistas ou de caridade, mas com justiça redestributiva. Quando um governo, ainda por cima de um partido dito “socialista”, decide compensar a perda de rendimentos com a “esmola” de 125 euros de apoio único a quem aufere até 2.700 euros mensais, nem faz justiça social, porquanto quem aufere 2.600 euros já ganha o dobro do salário médio (1.326 €), portanto, é considerado de classe média alta (não confundir com classe alta); nem tão pouco faz caridade, uma vez que 125 € a dividir por 365 dias dá 0,34 € por dia, metade do preço de um café. 

Claro que há quem ache 125 € uma fortuna que até pode fazer perder o tino a quem não está habituado a que lhe saia o euromilhões. Isabel Jonet teve o mérito de fundar o Banco Alimentar, mas, de quando em vez, parece uma daquelas tias aristocráticas que se juntam para praticar a “caridadezinha” no intervalo dos chás e da canastra, tecendo considerações de uma sobranceria desrespeitosa pelos pobres. Há dias disse ela à agência Lusa: “É importante fazer pedagogia e explicar às pessoas que não podem ir gastar estas verbas todas de uma só vez”. Ora, já Oscar Wilde dizia: “Recomendar aos pobres para serem poupados é ao mesmo tempo grotesto e insultante. É a mesma coisa que aconselhar um homem que morre de fome para comer menos”. A Isabel Jonet, no entanto, podemos perdoar as “gaffes”, até pelo respeito que nos merecem os(as) voluntários(as) que dedicam o seu tempo livre a ajudar a derimir a fome dos mais necessitados; já quanto aos governos e aos responsáveis políticos temos de exigir outra postura mais responsável. Em 6.05.2011, Cavaco Silva, então presidente da República justificava a ajuda externa da Troika com a frase (que outros, como Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, um ano depois, ou Horta Osório, presidente do Lloyds Bank, em 2014, viriam a glosar): “Não podemos continuar a viver acima das nossas possibilidades”, apelando à poupança das famílias e do Estado. Agora, Costa diz o mesmo com outras palavras: “Não podemos dar o passo maior do que a perna!” Ora, vamos lá a medir os passos e as pernas!

Os pensionistas já vão perder este ano, devido à inflação, o equivalente a um mês de pensão, e o governo vai dar-lhes para o ano, apenas metade daquilo a que tinham direito, de acordo com a lei de actualização das pensões, de Vieira da Silva, que recentemente defendeu (na Antena 1) “a suspensão da lei”, retirando da fórmula de cálculo o factor inflação e o crescimento económico. Os portugueses com pensões mais baixas ficarão a mancar ainda mais das finanças. Os trabalhadores veem o governo dito “socialista” a propôr na Concertação Social aumentos de 4,8% do salário médio até 2026,quando já perderam um mês de salário médio, devido à inflação.

A passos largos vão os hipermercados, a banca e as energéticas.  Nos primeiros seis meses do ano, a Sonae (Continente) duplicou os lucros, em relação a 2021; a Jerónimo Martins (Pingo Doce) aumentou os lucros em mais de 40% (278 milhões de euros). Os seis maiores bancos quase que já duplicaram os lucros (1,3 mil milhões no primeiro semestre), em relação a 2021. A EDP teve lucros de 306 milhões de euros (M€). A EDP Renováveis aumentou os lucros em 87% (265 M€). A GALP, do Grupo Américo Amorim, lucrou 420 M€. A inflação tem as costas largas. A inflação rasteira apenas os “pernas-curtas” (trabalhadores e pensionistas) que ficam a marcar passo; “os pernas longas” passam por cima e aceleram o passo.


Bem pode vir o Papa, o Secretário-Geral da ONU, o FMI e até o presidente do PS (insuspeito de esquerdista, que até pode apenas querer chegar a César Augusto, isto é, presidente disto tudo) darem razão aos partidos de esquerda e recomendarem a tributação dos lucros excessivos, que António Costa, não arrisca dar uma imagem “radical” e criar anti-corpos numa eventual corrida a presidente da Comissão Europeia. O défice acima de tudo, a dívida acima da fome!

Depois queixam-se por a extrema-direita conquistar o poder em Itália e crescer por essa Europa fora, irrompendo pelas brechas abertas pelas políticas neoliberais, ou social-liberais, que a direita e o extremo-centro insistem em praticar.

A propósito, até Pacheco Pereira lamentou, indignado, que os seus (ex)correligionários do PSD tenham “normalizado o Chega”, ao propôr o voto a favor do candidato da extrema-direita racista, xenófoba, homofóbica (e, digo eu, neofascista de rabo de fora) para vice-presidente da Assembleia da República. Felizmente que o voto é secreto e nem todos os deputados seguiram esta indicação de Montenegro, via líder da bancada, como disse aquele historiador.

 

 

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