Eleições para a (des) União Europeia
“A repartição da riqueza é uma questão demasiado importante para ser deixada apenas a economistas, sociólogos, historiadores e filósofos. Ela interessa a toda a gente, e ainda bem” (Thomas Piketty) Duas personalidades relevantes, Obama e o Papa Francisco, disseram que a desigualdade é o problema que define o nosso tempo. Esta questão traduz-se em dados […]
“A repartição da riqueza é uma questão demasiado importante para ser deixada apenas a economistas, sociólogos, historiadores e filósofos. Ela interessa a toda a gente, e ainda bem” (Thomas Piketty)
Duas personalidades relevantes, Obama e o Papa Francisco, disseram que a desigualdade é o problema que define o nosso tempo. Esta questão traduz-se em dados recentes, segundo os quais, nos EUA, 1% da população é cada vez mais rica e 99% vive cada vez pior.
Esta realidade não será muito diferente na Europa que tem sido palco do crescimento da desigualdade e do desemprego e do consequente aumento da pobreza que parece ter vindo para ficar. Este contexto, agravado pelos dolorosos programas de ajustamento impostos a países mais frágeis, abriu brechas no projeto europeu.
O euroceticismo ganha adeptos que engrossam as fileiras de partidos extremistas e populistas, de esquerda e de direita, que são contra a Europa. Os resultados das eleições europeias em Portugal preocupam-me, especialmente os números inéditos atingidos pela abstenção (63,34%) e votos em branco (4,63%). 164 873 portugueses dignaram-se a sair de suas casas, deslocaram-se às mesas de voto e deixaram o boletim em branco, sinalizando que nenhuma das propostas os satisfez.
Preocupa-me ainda mais a análise dos responsáveis partidários. Continuam a “empurrar com a barriga”, preocupando-se apenas com a manutenção do poder nas suas estruturas e não querendo refletir sobre o afastamento das pessoas. Temo que em Portugal, e nos restantes membros da união, se opte por enterrar a cabeça na areia e desvalorizar o “terramoto político” que ocorreu em França com a vitória alcançada pela Frente Nacional, liderada por Marine Le Pen.
Toda a arquitetura europeia ameaça ruir. Atentemos no facto de cerca de 100 deputados eleitos para o Parlamento Europeu serem contra a Europa e o Euro. Sou um europeísta crítico. Reconheço que há imperfeições, desde logo a excessiva burocracia europeia e o afastamento existente entre as instituições europeia e as populações, mas considero que cada um dos países que a constituem ficará pior se esta se desmantelar.
A construção europeia está no fio da navalha. Se por um lado, cresce o mau estar provocado pela crise económica, política e de legitimidade, por outro assiste-se ao “tocar a reunir” das mais diversas sensibilidades ideológica, alimentadas pelo “medo dos ricos”, que denotam capacidade de absorver os descontentes.
A CDU e Marinho e Pinto têm bons motivos para festejar. Quanto ao PS, embora ganhando, os números obtidos foram pouco animadores para um a liderança que há muito tempo que definha. A Aliança Portugal perdeu, mas não se verificou o apocalipse anunciado. O BE, além de uma liderança repartida e fraca, teve uma má candidata e quase “desapareceu”…
Se os partidos não se reorganizarem e não quiserem perceber que o cidadão é cada vez mais exigente, poderão sofrer um forte amargo de boca mas próximas legislativas. O terreno está propício a populistas e demagogos, havendo o perigo eminente de se “colherem tempestades” porque estão a “semear-se os ventos”.