Perante a inflação, a subida constante dos preços, a incomportabilidade do custo de vida, mesmo com as medidas anunciadas pelo Governo, a 95% ou mais dos portugueses só resta uma alternativa: poupar…
Porém, poupar é considerado por quem governa, mais do que um acto profiláctico para encarar a carestia e a desvalorização salarial, uma atitude negativa que comporta sérios danos à economia. Logo, mais que virtude é vício a evitar…
Quando hoje se fala em poupar, nem sequer é na perspectiva de “aforrar”, pôr dinheiro de lado para um imprevisto, para o futuro. Não, hoje os tradicionais depósitos à ordem não fazem sequer face à inflação. Poupar, hoje, é só para os ricos, sob o sinónimo de investir. Em propriedades, casas, arte, metais preciosos, acções, etc. Produtos inacessíveis aos ausentes desse estatuto.
Poupar, hoje, para a maioria tem sentido se formos em busca da origem da palavra, ou etimologia. Então que nos diz o dicionário?
Assim sendo, não comprando, perde a Economia. Se pouparmos, o Estado perde receitas, logo a começar, por exemplo, pelo IVA que não recebe. Perdem os comerciantes que não vendem os seus produtos. Perdem os restantes intermediários, perdem os produtores, perdem os fabricantes…
Já aqui demos o exemplo do combustível. Com os crescentes aumentos de preço, quase todos criámos uma atitude defensiva, mais ou menos potenciada por alguns. Circular menos para gastarmos menos. Cingirmo-nos ao essencial, pondo de parte o acessório. Acessório entendido como aquilo que podemos dispensar. O turismo, a restauração e similares serão as primeiras “vítimas”. O Estado também. As petrolíferas idem e assim sucessivamente.
Hoje, a miragem da cupidez, do arrecadar milhões à custa da crise – e estes últimos 3 anos têm sido nela pródigos, com o Covid 19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia – são um paraíso para os especuladores e para os bandos da agiotagem.
Por isso ouvimos que as petrolíferas e os “donos” da electricidade aumentaram os lucros em milhares de milhões, a banca idem, as grandes superfícies idem, na “ceva” imparável dos seus administradores a mando dos seus ávidos investidores.
Em consequência, e vou falar por mim, imporei as minhas regras: irei menos ao supermercado e quando for, comprarei apenas o estritamente necessário. Circularei de automóvel apenas quando for imperioso. Deitarei para o lixo aquela ideia de uma semana de férias, em Setembro. Desistirei das obras em casa. Adiarei para 2023 a mudança dos pneus do carro. Deixarei de comprar vestuário e calçado, aproveitando ao máximo o existente. Porei de parte cafés e restaurantes, cinemas e teatros, etc. Maioritariamente, futilidades de favorecido? Pois serão… apesar de tudo ainda sou um “privilegiado”. Porque há os “outros” e estes são provavelmente 5 milhões de portugueses, que não têm estes “mírificos e sibaríticos” luxos e já não conseguem pagar a renda de casa, pagar a luz e a água, comprar os medicamentos, pôr a comida na mesa…