Os jornais, mesmo em papel, têm futuro, desde que não se limitem a dar as notícias que já nos chegaram aos ecrãs, através das múltiplas plataformas às quais estamos conectados dia e noite.
Assino dois jornais estrangeiros, na sua edição digital, e continuo a comprar um jornal diariamente, um semanário e uma ou duas revistas. Felizmente, ainda o posso fazer. Motivam-me alguns colunistas, suplementos específicos, reportagens, alguma investigação e uma ou outra notícia, muito raramente, sobre um tema concreto que me interesse aprofundar.
Têm distintas visões em relação à morte. Carme tem dificuldade em aceitar que um dia deixará de ser ela mesma: “Quando deixar de ser eu, não quero estar aqui. Espero que possamos ser consequentes e ter direito a uma morte digna porque toda a minha família sabe o que quero. Porque têm que me obrigar a viver assim? Para quê estar sem estar?” Unzué pensa precisamente o contrário: “Eu tenho a sensação de que vou poder ser eu mesmo até ao último dia. Evidentemente, com uma limitação física total, mas a minha mente, se nada mudar, está como sempre. E por isso sinto que vale a pena. Em vez da morte digna, nós, as pessoas com ELA precisamos de uma vida digna.”
O Parlamento português acaba de aprovar na generalidade quatro projetos de lei que legalizam a eutanásia. Um tema sensível que merece a nossa atenção e justificaria mais e melhor discussão pública. Veja-se como uma atriz que um dia não recordará os seus papéis tem uma posição diametralmente oposta à do desportista que poderá perder toda a sua mobilidade.
Um dos pontos que têm em comum, ambos decidiram assumir publicamente as suas doenças incuráveis. O antigo craque do “barça” publicou um livro Una vida plena, se llama e organiza palestras por toda a Espanha. A atriz, depois de anunciar a sua retirada, começou a gravar um documentário sobre a sua relação com a doença de Alzheimer que se chamará Aquí, ahora.
Ao visibilizarem as suas doenças, a última coisa que queriam era que tivessem pena deles. Sabem que estas doenças são fechadas em casa, escondidas e que há um desconhecimento quase absoluto que gera, a somar à dureza do diagnóstico, uma enorme incerteza e instabilidade emocional. Com espírito de missão procuram sensibilizar e informar a comunidade.
Um bom exemplo do jornalismo que nos faz falta e de cidadania ativa de duas figuras maiores que contribuem para normalizar o mais possível a vida de milhares de pessoas, contribuindo para o combate ao estigma e ao desconhecimento. Bem hajam!
(Fotos DR)