Há exércitos de cabisbaixos

O movimento da cabeça a acenar um não, requer mais esforço que o sim da cerviz baixa. Questão de gravidade, a cabeça pende e anui.

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  • 19:52 | Domingo, 29 de Maio de 2022
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“Trair é sair da fila” (M. Kundera)

A metamorfose ou o lugar de além/os pelotões de cabisbaixos.

i) A fila é o carneirismo. A traição, a recusa. Os ângulos de visão determinam a sintaxe, reescrevendo a frase e alterando a semântica num acto de apropriação do sentido, por vezes do sentir, frequentemente só do senso.
A linearidade é o paradigma sem surpresas. Descaída, em fuga, escorregando, a linha de ruptura, obliqua, move o eixo e cria, sintagmática, a transgressão.Também a transgressão, o ir ao além de, é uma traição. Às normas, ao estabelecido, ao comummente aceite. À regra, por vezes princípio moral (des)conforme aos bons costumes.
Na escrita, toda a transgressão colide com a norma. E por vezes, a “coisa” acontece. Há que ousar. Saber ousar e… não ir por aí, mesmo sabendo que o trilho está afeito ao pisar e que a outra via — a ínvia — dilacera os pés afoitos.


 

ii) O movimento da cabeça a acenar um não, requer mais esforço que o sim da cerviz baixa. Questão de gravidade, a cabeça pende e anui.

Há sins fatais que geram o “decapitio” ou perda total do orgão, não ao impacto único da lâmina, mas ao peso do jugo imposto pelo cangote. Reerguê-la é um esforço inglório, porque lassas as cervicais, súbito e inesperado cedem, tombam ou recidivem. Há exércitos de cabisbaixos.

iii) Bom dia.

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Publicado em Opinião