“Quando o conservadorismo aumenta, quando o fanatismo tece a sua teia numa sociedade, passamos a vida a mentir.”
Slimani, L. “O perfume das flores à noite”, Alfaguara, 2022
Nas conversações tidas entre António Guterres, Labrov e Putin, a mentira calou sempre a argumentação do secretário-geral da ONU.
Nas conversações, Labrov reitera o desejo russo de manter as conversações de paz, mas fá-lo deixando a pairar no ar ameaça de uma III Guerra Mundial: “O perigo é sério, é real, não podemos subestimá-lo”.
É adepto dos corredores humanitários, mas manda a tropa impedi-los.
Sobre Zelensky, Labrov, o ventríloquo do regime, afirma taxativo:
“É um bom ator (…), se olhar com atenção e ler atentamente o que ele diz, encontrará mil contradições”. Claro que não se acha bom actor nem ao chefe czar. Tão pouco consegue entrever quaisquer contradições no que afirma, para “media ouvir”, mesmo que o restante mundo livre e democrático as vislumbre com clareza.
Estamos perante o que Barthes apodou de vocabulário “puramente axiomático. O que quer dizer que não tem nenhum valor de comunicação, mas apenas de intimidação (…) De um modo geral, é uma linguagem que funciona essencialmente como um código, isto é, em que as palavras têm uma relação nula ou contrária ao seu conteúdo.” *
Os políticos deste atribulado mundo descobriram a mentira delicodoce para recobrir a sordidez dos seus actos com um inocente verniz cosmético. E fazem-no porquê? Porque ainda há quem neles acredite.
· Barthes, R. – “Mitologias”, edições 70, 1978.