Rayan não sobreviveu…

Mas as televisões não mostram os campos de refugiados que são uma brutal realidade mundial, onde centenas de milhares de seres humanos enfrentam os rigores do inverno e onde diariamente morrem crianças que não resistem às baixíssimas temperaturas.

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  • 13:40 | Domingo, 06 de Fevereiro de 2022
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O drama ocorrido numa aldeia do norte de Marrocos teve um infausto desfecho. O menino de cinco anos, Rayan, caído a um poço de 30 metros de profundidade, ao fim de cinco longos dias e noites, foi retirado sem vida.

O mundo ficou expectante e a torcer pela vida da criança e pelo sucesso das equipas de resgate. O charivari mediático montado em torno do local do desastre foi digno de horas a fio de transmissão nas principais cadeias de televisão mundiais. Em Portugal, nem os treinadores de futebol conseguiram ter semelhante antena.

Este acidente fez esquecer o mundo do conflito ucraniano onde as tropas do czar Putin cercaram um país geoestrategicamente demasiado valioso para ser independente, com fronteira feita com a Rússia, o Mar Negro, a Moldávia, a Hungria, a Polónia e, o grande aliado de Putin, a Bielorrússia.


Isto é um pouco como os terrenos de um particular: Diz-me onde estão e eu dir-te-ei quanto valem. E a Ucrânia, ex-república soviética, dentro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a NATO, fundado em 1949, muito pró-ocidental, que a Rússia não integra, é um espinho cravado em Moscovo.

Mas as televisões não mostram os campos de refugiados que são uma brutal realidade mundial, onde centenas de milhares de seres humanos enfrentam os rigores do inverno e onde diariamente morrem crianças que não resistem às baixíssimas temperaturas.

No fundo, hoje, mundo fora, todos são Rayan. Muda a visibilidade que uns e outros têm e o imediatismo do novo, mas essencialmente evidencia-se um mundo de big brother, ávido de espectáculo trágico que, por catarse, permite a libertação de sentimentos ou emoções reprimidas e nos traz alívio e paz.

Enquanto forem os outros… esta é a tónica hodierna da desumanidade.

 

(Fotos DR)

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