Se é verdade que a pandemia veio alterar a vida das pessoas em todo o mundo, também é verdade que a população sénior foi das mais afetadas, não só, apenas aqueles que vivem no interior, mas também, os idosos que vivem confinados em apartamentos nos meios urbanos.
De acordo com o último balanço da Operação Sénior 2020, o isolamento atinge mais de 42 mil idosos em Portugal. O tema juntou vários especialistas com intervenção no terreno em todo o país, num debate intitulado “Solidão e Isolamento dos Idosos — Presente e Futuro”. Maior comunicação e articulação de sinergias para o desenvolvimento de mais projetos de intervenção social junto dos idosos foi uma das principais conclusões deste encontro nacional que decorreu no Dia Mundial de Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa. O replay do webinar – que juntou mais de 200 participantes de norte a sul do país e ilhas – está disponível para visualização em: vamosacabarcomasolidaoeisolamento.pt
Maria João Gonçalves, mestre em Psicologia, exerce a sua prática clínica privada no Centro Clínico da Maia e na União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, no Porto, onde acompanha de perto casos de idosos que vivem em profunda solidão. A responsável foi uma das oradoras convidadas do webinar e alerta para o facto de existir uma necessidade extrema de haver mais sintonia de esforços neste combate global: “É preciso haver uma maior comunicação entre agentes governativos, ação social, famílias e comunidade local, para que se possam articular sinergias coesas no sentido de minimizar este problema que é sistémico, sinalizando casos, intervindo de forma estruturada, indo de encontro a estes idosos isolados, combatendo a solidão e agindo com base no apoio social e mental.”
Outro orador convidado, Afonso de Herédia, mestre em Psicologia Clínica, realça que “o isolamento, os problemas que a sociedade enfrenta em relação aos seniores, não começou apenas na pandemia”, sublinhando que é fundamental ir de encontro aos idosos, “encontrando a forma mais eficaz de chegar até esta população, cujo isolamento também provoca uma desconfiança natural perante quem chega para ajudar.”
Uma ideia que é corroborada por outra das intervenientes no debate, Lisete Gonçalves, mestre em Psicologia, ao partilhar as dificuldades que enfrenta no trabalho diário nas visitas domiciliárias a esta franja da população: “É uma geração que não está habituada a lidar com tecnologia, que tem dificuldade, por exemplo, apenas para responder ‘sim’ por mensagem para marcar a vacina.” Para a psicóloga, uma das ideias para melhorar o convívio e acesso aos idosos — e a sua vida de bairro —, passa por ter uma relação de proximidade com agentes locais: “Muitas vezes através das juntas de freguesia, do pároco, da GNR. Estas sinergias são necessárias para chegar a estas pessoas com confiança. E mesmo quando chegamos, as pessoas só abrem a porta se telefonarmos”, destaca.
A conquista da confiança da população sénior que vive isolada e sozinha foi também abordada por Diana Fradigano, coordenadora do Projeto Nós e (A)vós, de inovação social dirigido à população da freguesia de Avelar, no município de Ansião. A responsável acrescenta ainda a importância de existir proximidade com os agentes locais: farmácias e equipas de proximidade da GNR. “Uma das visitas que fizemos acompanhadas pelas autoridades foi essencial para ajudar a ganhar confiança”.
A ideia de sensibilizar a sociedade para a mudança de comportamentos que ajudem a combater esta problemática e, também, para dar voz a quem já trabalha no terreno, partiu de Nuno Seleiro, responsável da Asserbiz, uma empresa dedicada à tecnologia para eventos que decidiu colocar o seu know-how ao serviço da Responsabilidade Social. “Lembramo-nos de organizar este webinar gratuito por que passamos a vida a ajudar grandes marcas e instituições a fazer este tipo de eventos. Pensámos que seria interessante abordar a realidade desta problemática a uma escala global e trazer ao debate novas perspetivas, respostas e rumos, ligando num encontro digital, especialistas no terreno a pessoas de todos o país. Foi muito gratificante ver a adesão massiva dos participantes e o interesse e sensibilidade demonstrados perante este flagelo.”