Há duas coisas que me irritam solenemente: a falta de respeito pelos outros e as vacas sagradas, os “ungidos do Senhor”. Mas, a vida é mesmo assim. Mudando de tema, esta segunda-feira, 7 de junho, foi o dia em que Viseu teve a oportunidade de assistir às novas habilidades de duas figuras da política local em torno de um objetivo comum: a conquista da presidência da autarquia.
É verdade que há quatro anos se tornava imperioso o regresso de Fernando Ruas. Eu próprio o defendi. Perante a situação calamitosa em que se tornou a gestão camarária e que agora todos parecem defender, não havia outra solução. Contudo, o tempo passou e nesse momento nenhuma vaga de fundo “inequívoca” se levantou nas “estruturas locais, regionais e nacionais”. Fernando Ruas continuou sentado na sua cadeira em Bruxelas enquanto por cá se engendrava “obra manhosa”, se voava para Cabo-Verde, semana sim semana não, e se gastavam os últimos tostões em foguetes e vinho. Se porventura têm estado menos atentos, nada como um passar de olhos pelas atas da Assembleia Municipal. Só nos últimos anos foram três os empréstimos pedidos à banca.
Começo por destacar que não estou a atacar ou a ofender qualquer interveniente neste caso. Contudo, conhecendo alguns pormenores da história, o entendimento hoje alcançado entre a “engenharia e a economia” faz-me uma confusão do caraças.
Logo pela fresca, cá no burgo, já os títulos davam como certo o fim do “tabu”. João Paulo Gouveia estava na lista que o candidato Fernando Ruas estava a preparar para a Câmara de Viseu. Não se sabia bem em que lugar, mas estava. Bem… Muito bem! Contudo, mais perplexo fiquei quando constatei que, no calor do momento em que esteve uma qualquer figura cinzenta do Partido Social Democrata (PSD) de Rio, o candidato a vereador se emocionou e se atirou ao candidato do Partido Socialista (PS), João Azevedo.
“Andam por aí uns que agora dizem que vêm unir Viseu. Pois Viseu, está unido, o PSD está unido e, até sugeria que fossem às suas terras e unissem as terras deles e os partidos de que fazem parte e que estão todos esfrangalhados”, disse João Paulo Gouveia sem se rir.
Aqui chegados, há várias coisas que se impõem perguntar ao candidato a vereador. Uma é, desde logo, se existiu ou não uma tentativa para afastar Fernando Ruas da corrida aos Paços do concelho? A segunda, qual o conteúdo da carta enviada por alguns dos candidatos às juntas de freguesia e na qual era dito aos responsáveis do partido (distritais e nacionais) que João Paulo Gouveia era o homem certo para o cargo em detrimento de Fernando Ruas? E, em terceiro lugar, se é verdade ou mentira que estes homens foram escolhidos por si e pelo inefável Guilherme Almeida que, por acaso, desempenha o cargo de coordenador na Associação de Desenvolvimento Dão, Lafões e Alto Paiva à qual João Paulo Gouveia preside?
João Paulo Gouveia há muito que nos habituou a estes arroubos. Contudo, mesmo em política não pode valer tudo. Aqui o problema é já, no meu entender, pedagógico e educacional. Este vereador, agora vice-presidente, com os pelouros das Finanças, Mobilidade, Transportes, Comunicações, Freguesias e Desenvolvimento Rural, Equipamento Rural e Urbano, Energia, Obras Municipais, Inovação, Economia, Empreendorismo, Ciência e Investimento, teve oito anos para mostrar o que vale. E, na minha modesta opinião, mostrou pouco. Muito pouco. Viseu, nos últimos anos, foi transformada numa lixeira a céu aberto. Viseu tentou à força privatizar os seus Serviços Municipalizados. Viseu assistiu ao aumento da fatura da água para valores quase incomportáveis para a maioria das famílias de baixos rendimentos. Viseu não fez uma obra de jeito, uma obra que tivesse mudado para melhor a vida dos seus munícipes. Viseu vendeu os seus lugares de estacionamento a uma empresa espanhola, a trinta anos, por tuta e meia. Viseu criou uma associação para o desenvolvimento da cidade (Vissaium XXI) que mais parece uma agência de desenvolvimento para amigos. Viseu já não é o que era e vai demorar a recuperar.
Já os economistas, principalmente os economistas que não têm uma visão de futuro para a cidade, “são um perigo à solta”!