Pedra de Paciência

Confia-se-lhe tudo o que não se ousa revelar aos outros… E a pedra escuta, absorve como uma esponja todas as palavras, até que um dia a pedra racha… Nesse dia, o crente liberta-se de tudo.

  • 11:48 | Segunda-feira, 07 de Junho de 2021
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«SYNGUÉ SABOUR significa pedra-de-paciência. Na mitologia persa, trata-se de uma pedra mágica que o crente deve pousar à sua frente para derramar sobre ela as suas infelicidades, os seus sofrimentos, as suas dores, as suas misérias. Confia-se-lhe tudo o que não se ousa revelar aos outros… E a pedra escuta, absorve como uma esponja todas as palavras, até que um dia a pedra racha… Nesse dia, o crente liberta-se de tudo.», Atiq Rahimi.

Na minha terra, Canas de Sta. Maria, no lugar do “fundo do povo”, existia um penedo arredondado, a dita “pedra da paciência”, da qual resta apenas metade incrustada na parede. Situava-se ali, ao dobrar da esquina, na rua direita, nas proximidades do edifício onde estiveram instalados, segundo consta, os serviços camarários, junto ao pelourinho de pinha embolada com ferros incrustados – sinalizando um dos concelhos sem comarca do País.

Falamos duma pedra granítica, azul, de considerável tamanho, ponto de encontro, durante gerações, a quem queria repousar e dar duas “quartadas” recostado junto à “Pedra de Paciência”, em frente à escadaria da moradia da D. Serrana e do Sr. “Vida Triste”.

Consta que, nesse tempo, as “coimas” eram aplicadas pelos homens bons da terra, de saber e paciência, ali onde se sentavam para discutir, decidir e aplicar as sentenças para manter a paz e fazer justiça.


Todos falavam, todos davam opiniões, mas a pedra ali se manteve inerte, anos a fio, até que alguém, sem paciência, decidiu pôr fim ao seu reinado. Era a PEDRA de PACIÊNCIA.

 

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Publicado em Opinião