A “ORAÇÃO DO CABOCLO”
Já me enviaram, e pela segunda vez o fizeram, um e-mail com um lindíssimo poema de Fátima Irene Pinto, de título “Oração do Caboclo”. Gostava de partilhá-lo, o poema, com muitos amigos, mas eu não aderi ainda às ditas e famosas e virtuosas “redes sociais”, digo sempre, quando convidado, que o núcleo dos […]
Já me enviaram, e pela segunda vez o fizeram, um e-mail com um lindíssimo poema de Fátima Irene Pinto, de título “Oração do Caboclo”. Gostava de partilhá-lo, o poema, com muitos amigos, mas eu não aderi ainda às ditas e famosas e virtuosas “redes sociais”, digo sempre, quando convidado, que o núcleo dos meus amigos é muito estreito, as minhas horas também, e me vai bastando esta troca de e-mails com esses poucos. Até porque a minha experiência recente me veio provar quão vã é essa crença de que temos por aí fora uma procissão de amigos indefectíveis. Os meus poucos amigos sabem o que eu quero dizer!…
A propósito do tal poema, que tem o jeito de oração e é tão bonita quanto as orações do Catecismo, apetecia-me lê-lo, o poema, ou rezá-la, a oração, ou tão só ouvi-la naquela doce e sincera toada da voz do caboclo sobre a hora do anoitecer morno do sertão.
O poema é uma lúcida reflexão sobre estes “mendigos de milagres” que somos nós, qualquer que seja a crença, quem quer que seja o nosso Deus, “a paz, o pão, a saúde, a habitação”, o caboclo não pede bem assim, pede, a seu modo, o sol na eira, a chuva para o nabal, e depois basta a vela de uns cêntimos a arder, numa caixa de esmolas a miséria de uns tostões e o dizer à rapariga da Moldávia que nos estende a mão à porta de uma igreja que vá bater à porta daquelas casas que nós sabemos que distribuem sopa para os pobres.
No fim do poema, na morna atmosfera da noite do sertão, o inocente caboclo achou que o seu Deus talvez dele precisasse, porque não, e prometeu, já que não tinha mais que dar, amar de verdade a seu irmão.