Na Noruega, após a vacinação de cerca de 30 000 pessoas, institucionalizadas em lares, antes da segunda dose da vacina da Pfizer-BioNTech, o Instituto de Saúde Pública (ISP) solicitou aos especialistas que avaliassem os riscos para as pessoas idosas e gravemente doentes, em função de 33 mortes que ocorreram após a vacinação (todas as vítimas tinham mais de 80 anos e sofriam de uma ou mais patologias). Situações idênticas também foram identificadas na Suécia e na Islândia.
Para o professor Antoine Pariente, médico especialista em Saúde Pública e Farmacologia, já foi aprendida a lição com outras vacinas que “para as populações idosas, a sua eficácia pode ser diminuída, devido ao envelhecimento do sistema imunitário. Geralmente, não há particular inquietude com a segurança, esperamos menos efeitos indesejáveis, mas eventualmente mais severos (…)” (Le Monde, 20/01/2021)
A Agência Norueguesa do Medicamento lembra que os ensaios clínicos realizados pela Pfizer-BioNTech “não incluíram pacientes com doenças instáveis ou agudas e que contaram com poucos participantes com mais de 80 anos.”
Em Espanha, a Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (SEGG) ainda não tornou publica a sua posição formal sobre as vacinas contra a covid-19 porque entendem os seus dirigentes que ainda não há evidência científica suficiente, relativamente às pessoas idosas (Entremayores, dezembro de 2020). Sublinham ainda que os estudos publicados – das fases I e II – provam que as vacinas são seguras, mas que os testes foram feitos a jovens adultos saudáveis. Um grupo com perfil bem distinto do testado, o das pessoas idosas, tem uma serie de particularidades, no que diz respeito ao seu estado de saúde. Podem apresentar um sistema imunitário deprimido e um estado de inflamação sistémico que, quando atacados pelo vírus, contagiam-se mais facilmente, adoecem em maior número e sofrem mais complicações, mais internamentos hospitalares e maior mortalidade. Portanto, poder-se-á identificar, claramente uma discriminação na seleção das pessoas para os ensaios clínicos, em função da idade, sendo raras as pessoas com mais de 75 anos e quase nenhum octogenário e nonagenário testado. Os mais expostos ao risco do vírus são os menos representados nos ensaios clínicos. #StopIdadismo!
Recordo a afirmação certeira do reeleito Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (parabéns e votos de um excelente mandato), no mês de novembro, ao rotular de “uma ideia tonta” que o plano de vacinação não priorizasse os mais idosos. Tonta ou não, caro Presidente, a ideia fez o seu caminho e foi inscrita no plano de vacinação apresentado aos portugueses. #StopIdadismo!
Inexplicavelmente, o plano ainda não foi estabilizado. É inaceitável. A Ministra da Saúde,
Marta Temido, revelou que o plano de vacinação contra a covid-19 vai ser revisto de forma a cumprir-se o objetivo traçado pela Comissão Europeia de se ter vacinados em março até 80% dos idosos com mais de 80 anos e até 80% dos profissionais de saúde. Caso não fosse uma imposição de Bruxelas, as principais vítimas da pandemia não seriam consideradas prioritárias em Portugal: “Neste contexto, o Ministério da Saúde e as suas estruturas estão a trabalhar na atualização do plano e ainda hoje ou no decorrer desta semana a atualização será realizada para se ter este novo grupo, que acresce aos já definidos” (Marta Temido, 25/01/2021) #StopIdadismo!
Deixo, humildemente, uma sugestão aos membros do Governo, não se sintam rogados e adotem as boas práticas de outros países, por exemplo da Alemanha que seguiu com rigor critérios científicos, políticos e éticos, estabilizou, anunciou e não mais alterou o plano de vacinação:
GRUPO 1 – + de 80 ANOS:
Pessoas idosas institucionalizadas;
Pessoal médico e de emergência médica;
GRUPO 2 – entre 70 e 80 ANOS:
Pessoas com Trissomia 21, demência, transplantados;
Pessoas de contacto de mulheres grávidas
GRUPO 3 – entre 60 e 70 ANOS:
Pessoas com fatores de risco agravado;
Polícia;
Bombeiros;
Funcionários de jardins infantis, escolas, trabalhadores do comércio
Políticos e magistrados;
Pessoas em situação de risco social e precariedade.
FONTE: https://www.rki.de