A ‘Rua Direita’ tentou entrevistar Carlos Silva Santiago, presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe e presidente da CIM DOURO, o qual, apesar da titânica luta que tem travado com o seu executivo contra a COVID 19, nos remeteu para um operacional no terreno, o médico-coordenador do Camião da Esperança, Alexandre Marques, alegando não ser tempo de entrevistas nem desejar qualquer protagonismo à custa da desgraça colectiva.
RD: Sernancelhe tem sido uma autarquia que se tem distinguido pelo seu empenho na luta contra a pandemia criada pelo vírus Covid 19. Quais as medidas concretas implementadas no terreno?
AM: Realização de testes rápidos a toda a população. A realização do teste é voluntária, por isso, apesar do objectivo total ser superior a 4100 testes, é natural que tenha ficado um pouco abaixo desse valor. Algumas pessoas podem já ter realizado o teste, e outras optam pelo isolamento, o que também é positivo.
RD: Que resultados obtiveram?
AM: Realizamos, em cinco dias, 3350 testes rápidos. Registámos 156 casos positivos e identificámos um surto num lar, que foi, de imediato, comunicado à Autoridade de Saúde Pública, com a qual realizamos testes PCR a todos os utentes e funcionários do Lar. Dos 26 testes realizados, 24 eram positivos.
RD: Que acções desenvolveram para combater esses resultados?
AM: Identificar todos os casos positivos é essencial para os poder isolar e acompanhar, para além de tornar possível identificar eventuais contactos, dentro e fora do Concelho, e dessa forma alargar o impacto e a relevância desta missão. Fizemos um forte apelo, pessoalmente, a cada pessoa que realizou o teste, sobre a necessidade do isolamento, de respeitar as regras, sem desculpas, e em caso de confinamento obrigatório, tentamos explicar a cada um o processo que se segue e a necessidade de serem ainda mais rigorosos no cumprimento dos mesmo. Do Município ficou-nos a garantia que vão acompanhar cada caso de forma próxima, de forma a garantir que cada munícipe tem o acompanhamento necessário em tempo oportuno.
RD: Quais os resultados concretos delas obtidos?
AM: Os resultados concretos desta missão serão visíveis no espaço de uma ou duas semanas. Dependem dos cidadãos, no cumprimento das regras de isolamento e confinamento, difícil de cumprir pelas especificidades desta região e das sua comunidades, mas também das autoridades, estatais e locais, em cumprirem as suas obrigações. O Estado deve prestar mais atenção a estes territórios e responsabilizar-se pela catástrofe que aqui permitiu, assegurando meios de saúde pública para acudir às populações, incluindo o acompanhamento psicológico, e o rápido acesso aos recursos hospitalares. Ao Poder Local compete cumprir o que tem feito até aqui, acompanhar de perto estas pessoas e assegurar, no limite das suas capacidades, que todos os munícipes são acompanhados e cumprem as regras.
RD: Esta situação, por analogia primária, faz-me lembrar os incêndios. Um proprietário desmatagou os seus pinhais. Ao lado, outro proprietário deixou o seu por limpar. O fogo destruiu ambos. Com o Covid 19 e a nível de territórios vizinhos passa-se o mesmo?
AM: Naturalmente. As pessoas circulam. O vírus circula com as pessoas. Na nossa sociedade, focada no ‘eu’, o indivíduo tem muita dificultada em respeitar o espaço do ‘outro’. Parece-me uma das razões pelas quais alguns países nórdicos, os países árabes e a própria Nova Zelândia, com a sua cultura comunitária, tiveram sucesso no controlo da pandemia, protegeram a sua comunidade em detrimento de quem vinha de fora.
RD: De que forma obviar a essa fatal vizinhança?
AM: Fechando fronteiras, identificando surtos e interrompendo as cadeias de transmissão. Se todos tivéssemos seguido a estratégia da Nova Zelândia, o problema do vírus estava resolvido há meses. Se o Governo da Madeira ou dos Açores, ou mesmo um município do Interior, tivesse a possibilidade de fechar as suas fronteiras, implementar os cercos sanitários, ou simplesmente regular as entradas através de períodos de quarentena obrigatórios, hoje, nesses territórios, o vírus não teria relevância em termos de disseminação na comunidade. Provavelmente nem existiriam casos.
RD: Os concelhos limítrofes de Sernancelhe implementaram as mesmas medidas sanitárias profilácticas?
AM: Penendono e São João da Pesqueira são os únicos Municípios em que já temos intervenções agendadas, mas há outros municípios interessados.
RD: Que comentário e conselho deixa aos nossos leitores?
AM: É um esforço que todos temos que fazer. Não se trata de restringir, mas de garantir que, em breve, todos podemos beneficiar da vida de forma plena, vivendo em harmonia com a nossa comunidade, com a nossa terra, respeitando tudo o que nos rodeia. Espero que as pessoas respeitam o isolamento, cumpram as regras para podermos celebrar a vida o mais rápido possível.