A primeira corrida do ano

E, na verdade, à velocidade a que foram, até eu os acompanhava, se fosse na minha bicicleta de fibra de carbono e tivesse uma nesga de estrada bem asfaltada só para mim.

  • 20:13 | Sexta-feira, 04 de Dezembro de 2020
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Em 21 de Março de 1945, Gil Moreira apressou-se a admoestar os corredores do Sporting. Na primeira prova oficial do ano, realizada no domingo anterior, eles dominaram os cinquenta quilómetros do itinerário, mas com pouco mérito, uma vez que a equipa Iluminante esteve ausente e, dos quatro atletas do Sangalhos, «só Túlio se mostrou capaz de lhes dar réplica».

Gil Moreira afirma que foi uma luta de «seis contra um». Preferiram deixar tudo para a «embalagem final», coisa que o público menospreza por não estabelecer uma superioridade clara e constituir um entorse do espírito competitivo, quase uma quebra da ética desportiva.

E, na verdade, à velocidade a que foram, até eu os acompanhava, se fosse na minha bicicleta de fibra de carbono e tivesse uma nesga de estrada bem asfaltada só para mim. Demoraram 1 h. 42 m. 31 s. Cada um procurou lutar apenas pela classificação final, porque era desta que sairia uma eventual participação na Volta à Espanha. Ordem de chegada: Lourenço, Rebelo, Aristides, Inácio, Mourão, Túlio, Baltazar, José Ferreira e Albuquerque.


Em 1945, reaparece a equipa de ciclismo do Belenenses e, ao que percebi, desaparece a do Benfica.

O director da revista Stadium preferiu ocupar as páginas centrais com uma abundante reportagem fotográfica do fim-de-semana futebolístico: o guarda-redes, no ar, quase a apanhar a bola; o guarda-redes, estirado, a impedir a sua entrada na baliza; o jogador que a cabeceia; os que a perseguem; etc.

Mas o ciclismo não podia ficar esquecido. «Ponham lá três fotografias!» E puseram, com legendas simples e cativantes: «Lourenço corta a meta em vencedor dos independentes»; «um aspecto da marcha dos iniciados», que omiti; «os amadores pedalam no regresso da Malveira», que também não mencionei. João Lourenço abre a boca, talvez ofegando, talvez increpando o cansaço, talvez gritando pela vitória.

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Publicado em Opinião