O ano 2020 ficará sempre marcado pela esperança em que a expressão “vai ficar tudo bem” nos fez acreditar. A verdade é que depois de bem-comportados, desconfinamos mal e voltamos a desvalorizar o que temos de mais importante: a saúde e o respeito pelo outro.
Os dois meses de confinamento deram essa esperança de mudança a quem escreve sobre Desporto, a quem acredita piamente nos seus valores e que a competição só vale quando existe respeito pelo corpo, pelas regras, pelo adversário, pelo árbitro/juiz ou pelo público.
Vivemos momentos, ainda, de muitas incertezas. O stress é visível no dia-a-dia. Mas será que não aprendemos nada?!
O futebol profissional, que maltratou o público com jogos durante os dias de semana a horas tardias, que não quis erradicar a violência que grupos organizados cometem, preços oportunistas, vem agora exigir público? E do bem-comportado?! Não souberam fidelizar o “puro” adepto. Não transmitiram valores que o desporto não pode dispensar. Atletas e treinadores merecem público. Quem geriu o futebol profissional e não percebeu que a essência do futebol é o público no estádio, e não a televisão e o dinheiro, a participar positivamente no apoio à sua equipa e que vibra com o espetáculo, não tem moral para reclamar. Os clubes, que tanto promovem a clubite e o ódio, não conseguiram unir-se na causa maior: a valorização do espetáculo desportivo.
No desporto sénior – não profissional, existem receios de alguns agentes por não haver despistagens. As competições vivem semana a semana. Mas todos nós na nossa vida o estamos a fazer. Tem sido muito difícil para todas as organizações manter o equilíbrio entre a saúde, a economia e a retoma desportiva!
Com certeza que o Governo e a DGS terão de repensar a situação de público nos campos. O desporto não tem culpa nem pode ser descriminado. Milhares de agentes desportivos por este país têm esse direito. Qualquer espetáculo é para o seu público. O direito do adepto não pode ser colocado em causa porque se parte do princípio de que vai portar-se mal!
A saúde é primordial. A educação indispensável. A atividade económica fundamental. Outras atividades como a cultura e o turismo essenciais à sociedade.
Só que o Desporto, não a clubite, é tudo isto: saúde, economia, educação, cultura e turismo.
Vai ficar tudo igual. Menos mal.
Vítor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética Desportiva