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Via Romana de Coimbrões – Um atentado autárquico

Os responsáveis políticos que lesam directa ou indirectamente as heranças deixadas por outras civilizações também deviam ser penalizados por isso na Justiça, ou no mínimo serem abandonados e ignorados pelo povo nas eleições.  

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    • 9:30 | Quarta-feira, 16 de Setembro de 2020
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    Para o que me haveria de dar!? Vivenciar os tempos memoráveis de Viriato percorrendo as vias romanas de outrora e logo dou de caras com um atentado ao património que alguém achou por bem realizar e outros por certo autorizar. Além do estado de abandono geral da via romana eis que agora vê anulada parte do seu trajecto apagando assim a história desta cidade e delapidando tão valioso e raro testemunho de outros tempos (http://viseu.ciarte.pt/textos/96-99.html).

    Quem responde por isto? Como foi possível autorizar semelhante crime?


    Como é possível que o responsável pelo património da nossa edilidade não consiga preservar a memória do passado da cidade com a necessidade de investimento no futuro? A empresa que ali se instalou e que na sua missão se aposta a criar valor e bem estar para as populações foi alertada para a necessidade de proteger e valorizar o património ali existente?

    Não pode o executivo alegar desconhecimento da lei de protecção do património ou o desconhecimento do território para aprovar uma operação urbanística deste teor ainda que dele resulte vantagem para a empresa e disso resulte a criação de emprego no concelho.

     

    Bem pode o executivo a seguir fazer uso da permanente propaganda e desdobrar-se em esforços para ludibriar os cidadãos das acções políticas tomadas a par da sua inaptidão crónica para a realização de exercícios de auto crítica, optando antes pela ofensa e arrogância que já não apaga o atentado que ali está visível e que as fotos retratam.

    A lei de bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural diz no seu artigo 12:

    “Como tarefa fundamental do Estado e dever dos cidadãos, a protecção e a valorização do património cultural visam:

    a) Incentivar e assegurar o acesso de todos à fruição cultural;

    b) Vivificar a identidade cultural comum da Nação Portuguesa e das comunidades regionais e locais a ela pertencentes e fortalecer a consciência da participação histórica do povo português em realidades culturais de âmbito transnacional;

    c) Promover o aumento do bem-estar social e económico e o desenvolvimento regional e local;

    d) Defender a qualidade ambiental e paisagística.”

     

    Ora, no caso do atentado irreversível da via romana em Coimbrões, Imóvel de Interesse Público, a fruição cultural é impossível já que o acesso à via a partir do arruamento do parque industrial de Coimbrões está impedido pela terraplanagem efectuada.

    Também a estação elevatória das águas de Viseu o impede, e tudo o mais à volta é mato.

    O incentivo acabou, encontra-se abandonado pelos historiadores, os arqueólogos agamelados devem andar mais preocupados em fazer mais uma tela para ocultar a lentidão dos seus trabalhos junto à Igreja da Misericórdia, até que o portal Base anuncie novo contrato e o sempre activo vereador da Cultura deve andar feito Indiana Jones das Beiras com o chapéu em inexploradas grutas e tesouros.

     

    As estradas romanas foram em tempos casos de estudo que permitiram a utilização da pedra para a construção de vias cujo material é granítico. Já a qualidade ambiental e paisagística é bem usufruída se ignorar o atentado e colocar o nosso olhar na silhueta da serra do Caramulo e deixar a vista percorrer a panorâmica sobre os arredores de Vissaium.

    Caro leitor, vá até lá, respirar o ar puro do pinhal que acompanha a estrada romana sem deixar de ter cuidado com o mato que já invade a estrada e que torna imperceptível a plataforma em que é assente a via.

    Como refere Françoise Choay “... os monumentos estão permanentemente expostos às injúrias do tempo vivido. O esquecimento, a desafectação, o desuso fazem esquecê-los…a desconstrução voluntária e concertada também os ameaça, inspirada quer pela vontade de destruir quer pelo contrário desejo de escapar à vontade de aperfeiçoamento…” da envolvente.

    Os responsáveis políticos que lesam directa ou indirectamente as heranças deixadas por outras civilizações também deviam ser penalizados por isso na Justiça, ou no mínimo serem abandonados e ignorados pelo povo nas eleições.

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