Os Zés de Monsaraz

De concreto assiste-se a um inexplicável jogo de ping-pong pelo qual se tentam, não só descartar as responsabilidades, como também imputá-las a outros parceiros, ARS e Ordem dos Médicos a baterem duras bolas. Ou por outras palavras, um público "lavar de roupa suja".

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  • 12:10 | Quinta-feira, 20 de Agosto de 2020
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Para mágoa de todos nós, a constatação do continuado número de óbitos em ipss’s, misericórdias, fundações, lares… trouxe ao de cima intoleráveis fragilidades do sistema e, essencialmente, o pouco valor dos idosos na nossa sociedade.

Sem polémicas, que em sede própria serão (talvez) dilucidadas, o efeito está à vista e é irrefutável: No lar de Reguengos de Monsaraz, Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, declarou-se um surto epidemiológico com 80 utentes e 26 profissionais infectados que, ao momento, resultou em 18 mortes.

Se todo o efeito tem sua causa, qual será ela aqui?


De concreto assiste-se a um inexplicável jogo de ping-pong pelo qual se tentam, não só descartar as responsabilidades, como também imputá-las a outros parceiros, ARS e Ordem dos Médicos a baterem duras bolas. Ou por outras palavras, um público “lavar de roupa suja”.

Para que tal trágico acontecimento ocorresse houve falhas intoleráveis. Na localidade há muito se falava em casos pontuais de negligência. Refere-se à boca calada também um clima de medo em dar a cara pela sua denúncia pública. Ou seja, as causas não seriam uma inusitada novidade.

De momento, o presidente da Câmara local, José Calixto está de férias e não presta mais declarações, o presidente da ARSA, José Robalo, muita agastado e agressivo, afirma ter sido possível haver ajustes na actuação, mas que no essencial houve cumprimento – que faria se não houvesse… e o presidente do Centro Distrital de Évora, José Ramalho, que tudo (?) terá feito na fiscalização e acompanhamento das boas condições de segurança do lar, são apodados por alguma imprensa como “os Zés da Teia” (socialista, entenda-se), agora muito sensibilizados, alertados e até receosos das possíveis consequências criminais de uma eventual negligência e incúria, mas também das negativas ilações políticas daí advenientes.

A própria ministra do Trabalho e Segurança Social, Ana Godinho, não ficou bem no retrato pela forma despicienda como de início encarou e tratou do caso. Mão emendada, aparece agora ao lado de António Costa a prometer mais de uma centena de milhões de euros e 15 mil profissionais para o sector… a trancar as portas depois da casa roubada. Talvez até saia legislação a tornar integralmente gratuito o acolhimento dos idosos… e a impedir as instituições públicas de lhes cobrar pensão. Quem sabe?

Para descanso dos portugueses bom seria que tudo fosse minuciosamente apurado, de forma profiláctica e positiva, para obviar à repetição de situações análogas.

Um país que não protege os seus anciãos, perdido a afeição pelos seus ascendentes, não pode ter o respeito dos seus concidadãos, os em breve idosos de amanhã…

 

(Foto ASPX DR)

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