Todos os anos é assim. Cíclico e penoso. Títulos de primeira página e abertura de telejornais, dando voz a queixas e angústias.
Pensava eu que a integração dos Bombeiros na Protecção Civil seria a alavanca que os puxaria para cima e lhes proporcionaria um novo tratamento. Pelo menos igual ao dos restantes agentes. Longe disso. Igualar no estatuto e diferenciar no apoio e tratamento foi, e é, chocho e coxo. As recentes notícias sobre a fragilidade dos EPIs distribuídos aos bombeiros são assustadoras. E criminosas. Sendo o Estado que os mobiliza para operações de Protecção Civil, é a ele que cabe dotar os homens e mulheres do equipamento mínimo de segurança. Dotar, manter e renovar. Não há discussão à volta disto. Pode haver, mas não é sensata. É até vesga e estúpida. Mas o Estado é incumpridor por natureza e desleixado por vocação, tipo deixa andar.
O Estado não prescinde dos Bombeiros, mas não morre de amores por eles. Amachuca-os, mas não os hostiliza. Nas solenidades, garante que os Bombeiros são a “espinha dorsal” da PC, nos funerais choram-se umas lágrimas, prometem-se inquéritos, fazem-se umas promessas. E o povo, escaldado com tanta hipocrisia, ainda finge acreditar. Mas só a necessidade obriga ao convívio e à tolerância. Acresce que o Estado português não tem cultura de protecção civil. Afirmar o contrário, é mentir. Nem está preparado para situações extremas. Embora laico, confia demasiado em N. Sra. de Fátima.
Os Bombeiros têm razão, mas não têm liderança. Os Bombeiros são rijos, mas não têm força. Com roupa velha não se fazem fatos novos. E um barco sem comandante, é um barco à deriva, prestes a encalhar ou afundar. Acreditar que tudo vai melhorar é como acreditar em endireitar a sombra da vara torta.