Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) explorou o potencial de valorização de quatro subprodutos dos setores florestal e agroalimentar no contexto de uma biorrefinaria, contribuindo assim para a bioeconomia, um conceito promovido em todo o mundo, com o objetivo de substituir recursos fósseis e encontrar novas estratégias para a gestão de resíduos.
A biorrefinaria consiste no aproveitamento total da biomassa, produzindo produtos de valor acrescentado e/ou energia a partir de matérias-primas diversas, ou seja, aproveitar tudo o que se extrai da natureza, reduzindo ao máximo o resíduo e sem causar estragos ecológicos.
Após uma avaliação exaustiva das propriedades destes resíduos, seguida de várias extrações de compostos obtidos por técnicas sustentáveis, a equipa identificou nos resíduos do pinheiro a presença de substâncias com forte atividade antioxidante e um composto que tem potencial como repelente/inseticida.
«Além de demonstrar que os quatro resíduos são promissores para a economia de base biológica portuguesa, a grande surpresa foi encontrar compostos com propriedades antioxidantes e repelentes nos cepos e ramos dos pinheiros, respetivamente. Esses extratos com as propriedades antioxidantes podem ser incorporados em produtos de cosmética ou produtos alimentares e farmacêuticos», revelam Marisa Gaspar e Mara Braga, investigadoras do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) da FCTUC.
A grande novidade deste projeto, segundo as investigadoras, é aproveitar estes subprodutos antes de se chegar à fase de produção de energia. «Apesar de já existirem algumas biorrefinarias, essencialmente para a produção de biogás e bioetanol, ainda existem matérias-primas que não são exploradas, principalmente nas indústrias agrícola e florestal. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar quatro resíduos abundantes no nosso país para analisar o seu potencial no contexto da biorrefinaria».
Esta investigação foi realizada no âmbito do projeto “MultiBiorefinery – Multi-purpose strategies for broadband Agro-forest and fisheries by-products: a step forward for a truly integrated biorefinery”, inserido num consórcio de seis unidades de investigação liderado pela Universidade de Aveiro (UA).
O “MultiBiorefinery” visa desenvolver e utilizar estratégias multiusos e tecnologias inovadoras e sustentáveis, com recurso à biotecnologia industrial e à química verde, para valorizar subprodutos com a finalidade de avançar para uma biorrefinaria verdadeiramente integrada capaz de lidar com matérias-primas diversas. O projeto teve financiamento do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica: Programas de Atividades Conjuntas.
A próxima fase da investigação, que teve início em 2016, vai centrar-se em explorar a possibilidade de desenvolver «filmes poliméricos comestíveis, isto é, revestir alimentos com embalagens comestíveis e biodegradáveis, por forma a substituir os plásticos atualmente usados para este fim», adiantam Marisa Gaspar e Mara Braga.
Parte do trabalho que tem vindo a ser realizado encontra-se na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering.