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A Branca de Neve

É impensável que uma entidade pública mude um meio de socorro de local, e avise com tão pouco tempo de antecedência. A isso, chama-se falta de respeito e de decência. Mas a Administração Pública Central é isso mesmo. Um ninho de víboras e um valhacouto de lacraus, titulares de anafadas capelanias e lustrosas vigararias, que se invejam e se multiplicam.

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    • 21:25 | Sexta-feira, 05 de Junho de 2020
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    Esta história do helicóptero do INEM, estacionado em Viseu, está mal contada. E cheira a esturro. A explicação dos impossíveis embrulha-se nas mentirocas. Por isso, nunca é fácil nem linear.

    Não vou falar da sua saída provisória de Santa Comba Dão para Viseu nem da ida para Mangualde, como se chegou a alvitrar, em alternativa às duas possibilidades. Garanto que altas instâncias, tempos atrás, analisaram seriamente a equação e perderam bom tempo com o estudo. Nem quero meter-me pelos atalhos das certificações técnicas que duvido que Viseu não tenha e que Santa Comba, depois de muito porfiar, acabará por ter.

    Quero falar do processo de retirada e da reversão da dita. Infantil e próprio de amadores e aprendizes. E abordar três detalhes.


    Um. É impensável que uma entidade pública mude um meio de socorro de local, e avise com tão pouco tempo de antecedência. A isso, chama-se falta de respeito e de decência. Mas a Administração Pública Central é isso mesmo. Um ninho de víboras e um valhacouto de lacraus, titulares de anafadas capelanias e lustrosas vigararias, que se invejam e se multiplicam.

    Dois. É ridículo que o INEM, depois de comunicar a deslocalização transitória, recue na decisão, depois da pressão dos políticos e dos OCS, até da Ordem dos Médicos. Só mostra que decisão foi precipitada e sem critério. Infelizmente, em Portugal, as coisas só se fazem assim. A pontapé. Anda-se tempo infindo para resolver um problemazinho, esquecido nas gavetas, vem a comunicação social denunciar o atraso, amanhã está decidido. Não teria sido mais sensato negociar antes e anunciar depois? E não eram assim tantos os interlocutores, INEM, CMB e IFA. Isso sim, seria prudente e obra de gente que é bem paga para estar onde está. Era só pôr os bois à frente da carroça, como qualquer agricultor bem sabe. O que transparece é que não houve planeamento, diálogo, concertação, que nem a ameaça da Covid-19 releva.

    Três. Incumbiu-se a ministra Branca de Neve, que não tem tutela sobre o caso, de, com pompa e busto, anunciar o recuo e apaziguar os ânimos exaltados. Francamente, o tempo e o modo pareceram-me pimba, de mau gosto. Vulgar, aparolado, um pouco “kitsch”, até. Curiosamente, à chegada, não faltaram os 7 anões, capitaneados pelo Mestre. Em linha recta, tipo filinha pirilau, seguidores e saudosos, na mira das câmaras, o Feliz, o Atchim, o Soneca, o Dengoso, o pequeno Dunga e o Zangado.

    Todos trataram a senhora muito bem, em troca de lhes arrumar a casa. Em vão, tentaram safá-la da maçã envenenada. Parece que não, mas é nos detalhes que está o Diabo.

    Entretanto, e é o que interessa, o interior e uma população de 2 milhões de pessoas, prestes a serem esbulhados de um meio de socorro, livraram-se de uma valente machadada na coesão territorial. E de uma boa fornicadela. Esperemos que não aconteça de novo, entregando ao incerto o bem mais precioso. A saúde.

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