A Rua Direita entrevistou Armando Mateus, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Sernancelhe, acerca do novo evento a ser implementado em Abril, sob o tema: “Momentos com Vinho”.
Este festival dedicado aos vinhos junta-se à Festa da Castanha, ao Festival das Sopas e outras mais iniciativas de reconhecido êxito no contexto de valorização dos produtos endógenos e divulgação dos seus produtores.
Como surgiu esta ideia?
A ideia resulta do fato de Sernancelhe estar inserido numa região produtora de vinhos de excecional qualidade: o Távora-Varosa.
Ao longo de séculos, e tirando proveito da proximidade aos rios Távora e Varosa, e à especificidade climatérica desta região, os concelhos de Sernancelhe, Moimenta da Beira, Tarouca e Lamego, assumiram-se como grande produtores de vinhos brancos e de espumantes. Nasceram nesta região marcas tão importantes como Raposeira, Murganheira e Terras do Demo. São estes vinhos e esta região, geograficamente situada entre o Dão e o Douro, que devem ser mostrados ao País com este evento.
Quais os objetivos que a autarquia pretende atingir com este novo conceito?
Promover os vinhos da região, criar uma montra promocional dos néctares que aqui são criados, aproximar os produtores dos mercados e, no contexto único do Exposalão, proporcionar um fim-de-semana de convívio, de cultura e de dinamização económica onde não faltará a gastronomia regional, concertos, workshops e provas de vinho.
Como e onde vai decorrer?
Durante os dias 18 e 19 de Abril, pretendemos proporcionar a todos os visitantes atividades diversificadas que passam por momentos de prova de vinhos, no contexto da participação totalmente gratuita para os produtores, aos quais será disponibilizado um stand expositivo bem como a possibilidade de venda de vinhos nos respetivos stands e também numa garrafeira central, apoiada por quatro zonas de restauração dirigidas por chefes de cozinha conceituados na região.
O evento decorrerá no Exposalão Sernancelhe, pavilhão multiusos que conta com cerca de 2.000 metros quadrados de exposição, onde se pretende concentrar entre 60 a 80 produtores de vinho. O evento contará ainda com diversos momentos de animação musical.
Que parceiros envolverá?
O evento pretende que sejam os produtores de vinho, que só no concelho de Sernancelhe ultrapassam as duas centenas e meia, que vejam neste evento a sua atividade rentabilizada e os seus produtos valorizados. Por isso, serão as cooperativas e os produtores/engarrafadores que terão com esta iniciativa uma oportunidade extraordinária para darem a conhecer as propriedades e todo o potencial dos vinhos criados nas encostas destes rios. Fazendo jus ao slogan do evento “O Távora-Varosa convida os vizinhos Dão e Douro”, queremos que neste mesmo espaço, convirjam três grandes regiões produtoras de vinho em Portugal, essenciais para a economia nacional e para as exportações de vinho do nosso País. Por isso, entendemos como players todos os parceiros que sejam proactivos do sector vitivinícola destas três regiões.
Qual a receptividade encontrada?
A recetividade é total. De tal forma que temos recebido muitas manifestações de agrado e de apoio por Sernancelhe ter assumido a ousadia de dar a conhecer, sem hesitações e com total empenho, os vinhos que aqui são produzidos, mostrar o trabalho dos nossos agricultores e exibir como marca a pertença à região Távora-Varosa.
Que parceiros já têm firmados?
O evento está a receber um feedback extremamente positivo, não só localmente como ao nível de toda a região. Por isso, são já nossos parceiros os vinhos do Dão e os vinhos do Douro, e são nossos parceiros estratégicos os vinhos do Távora-Varosa. Recebemos já muitos pedidos de espaços para exposição, o que faz antever que nesta primeira edição sejam ocupados todos os espaços expositivos disponibilizados no Exposalão.
Tratando-se do primeiro evento do género, contamos ainda com a assessoria do Eng.º Rui Falcão, consultor do evento, blogger e jornalista desta temática, sendo ele o responsável pelas ações de formação, coordenação dos wokshops e também por mobilizar outros bloggers e jornalistas desta temática.
Neste evento é ainda parceira do Município a enóloga Catarina Simões, sernancelhense, dedicada à produção de vinhos do Dão, bem como o também sernancelhense João Aguiar, conhecedor de vinhos e desta vasta região vitivinícola.
Qual a realidade vitivinícola de Sernancelhe?
O concelho de Sernancelhe acompanhou a evolução verificada no sector, recebendo novos incentivos à melhoria dos equipamentos bem como reestruturando as vinhas. O cultivo da vinha foi alterado, mecanizado, e foram plantadas castas de acordo com o aconselhamento técnico proporcionado pelas cooperativas. Nesse sentido, os resultados foram imediatos, e nesta região surgiam marcas de vinhos espumantes que rapidamente conquistaram o mercado nacional e o internacional.
Sernancelhe, pelo seu posicionamento e dimensão geográfica, tem um peso substancial nesta equação: de acordo com dados de 2018 da Cooperativa Agrícola do Távora existem 244 sócios só do concelho de Sernancelhe, que entregaram nesse ano na cooperativa cerca de 1100 toneladas de uvas de qualidade, representando mais de 40% das uvas de qualidade entregues só na cooperativa.
Acresce o facto de em Ferreirim ter sido criada uma adega privada que produz os vinhos “Decisão”, “Carrilhas” e “Quinta das Cepas”, todos eles tendo por base as castas produzidas nas encostas de Ferreirim e Fonte Arcada, precisamente na margem direita do Rio Távora.
Sernancelhe está mais virada para o Douro ou para o Dão?
Sernancelhe é um concelho inserido na Comunidade Intermunicipal do Douro, que compreende 19 concelhos, dos distritos de Viseu, Guarda, Vila Real e Bragança. Geograficamente, situa-se na fronteira da Beira com o Douro, na passagem das paisagens graníticas para as xistosas, dos terrenos de planaltos de quase mil metros de altitude para vales escarpados, dominados por extensos vinhedos e olivais. Somos também a Terra da Castanha, e esta marca coloca-nos em diálogo constante e aberto com municípios do Douro e com municípios do Dão, esbatendo qualquer espécie de barreira física que pudesse persistir nestes territórios. Por isso, estamos posicionados no centro de uma grande região riquíssima na sua diversidade.
O Vinho e a Castanha são dois exemplos desta excecionalidade, com que Sernancelhe foi brindado pela natureza e, por isso, entendemos que somos um entre tantos de uma grande região que deve estar unida e ser cada vez mais forte e coesa.
Haverá possibilidade de criar uma simbiose entre estes dois territórios vizinhos, em matéria vínica?
Somos do entendimento, como referimos, que é na diversidade que reside a nossa diferenciação. É por termos produtos diferentes que somos diferentes; é por continuarmos a plantar castas diferentes que somos reconhecidos pelo mercado; é por termos solos distintos que os vinhos são impossíveis de comparar.
Numa região tão vasta, mas que depende das mesmas estradas, dos mesmos cursos de água, do mesmo mercado, dos mesmos apoios comunitários, será essencial que continuemos a apostar nas nossas diferenças e a criar políticas para que sejam preservadas, mas também que tenhamos uma porta aberta para o diálogo entre regiões, promovendo trocas e novas experiências, também no sector vitivinícola. Até porque o exemplo do turismo, que chegou a estas regiões muito por via do vinho, exige que sejamos autênticos, seja na nossa gastronomia, seja no nosso património, seja nas nossas gentes, mas estando abertos a novas experiências. E bons exemplos vínicos existem já entre as regiões do Dão e do Douro, de que resultaram vinhos únicos e de grande simbolismo nacional.
O nosso desejo é que neste evento se unam o Dão, o Douro e o Távora-Varosa no desafio conjunto de criarem um vinho com as castas mais emblemáticas de cada região, e quem sabe, se este vinho não será a grande marca desta primeira edição do evento “Momentos com vinho”.