Estranhos tempos estes quando a gritaria estrepitosa do bufão “nonsense” se sobrepõe nos decibeis à séria discussão parlamentar dos problemas da Nação.
De um momento para o outro, os portugueses mais dados à pilhéria (o Eça e o Camilo sabiam de quem falavam…), elegeram dois parlamentares para os extremos esquerdo/direito da branda política lusa. E tiveram sorte na aposta, pois em rábulas teatrais bem urdidas, os eleitos conseguiram galvanizar a comunicação social mais aprestada na escandaleira que dá óptimos “shares”, mais que na excelência informativa à qual, actualmente, muito poucos parecem ligar.
Assim a dupla Livre Chega ou o Chega Livre (para não sermos acusados de preferências) percebeu que nada há a debater, que o parlamento é um lugar de sisudos entediados, que é preciso animar a malta com um folclore ao estilo farange, trump, boris, bolsonaro, provocador, aparentemente semi-analfabeto mas viral. Ou seja, na tónica do povão, que entre dois arrotos e três “loiras” manda uns crencos na Maria cada vez que o árbitro levanta um cartão amarelo, ou o Pedrão se engana na bola e chuta no Manelão.
No fundo, a sonorosa e pomposa dupla, ódios e xenofobias à parte – embora façam parte do guião pré fabricado – percebeu o que por exemplo certo tablóide bem sucedido há muito entendeu: sintonizar com o acriticismo e, se não há sangue e facas na liga para mostrar (por ora…), há pelo menos berreiro sulfuroso, cientes de que “é o que está a dar”. E como tal, em vez de um tuíte mal esgalhado (de preferências com dois erros ortográficos por linha), marcar a OT do dia com uma abstrusa ideia, provocatória q.b., à mistura com um aparte de tartufo semi entalado numa gestualidade de histrião ou bufão (à V escolha).
Estes dois deputados democraticamente eleitos são a voz do Portugal entediado que insulsos media ecoam e glorificam pelos troantes canais da parvoíce.