Os “resilientes” políticos de Viseu
Um político da nossa viseense praça escreveu no Facebook, em resposta um comentário (que não foi meu), sobre a necessidade de “valorizar os resilientes” – referindo-se provavelmente a si
Há palavras que, de repente, entram no vocabulário quotidiano de alguns que julgam, dessa forma, marcar a diferença a nível de comunicação, no âmbito da partilha de ideias e de opiniões.
Não são neologismos, porque há muito existem, antes palavras raramente utilizadas, eruditas, caídas em desuso e recuperadas por aqueles que gostam de “falar novo e caro”.
Foi o dramaturgo francês Molière, de seu verdadeiro nome Jean-Baptiste Poquelin, que escreveu com irónica graça:
“Quando não nos fazemos entender, falamos sempre bem.”
Esta deve ser a máxima de alguns, para “obnubilação”(outra!) dos espantados interlocutores e para “obstaculizar” (outra!) ao entendimento e provocar o deslumbramento dos papalvos.
Um político da nossa viseense praça escreveu no Facebook, em resposta um comentário (que não foi meu), sobre a necessidade de “valorizar os resilientes” – referindo-se provavelmente a si próprio – com entoados vivas à democracia e até procissões a passar na rua, com espectadores (ou será “espetadores”?) à varanda, e nada na acção política, “rien de rien” na luta pela democracia. O gaulês é “chic a valer“, fica bem no contexto e denota poliglota cosmopolitismo.
É verdade que se não nos valorizarmos quem nos valorizará? Se não fizermos o auto-elogio, quem nos elogiará?
Por via das dúvidas, fui ao dicionário clarificar o significado do bonito vocábulo “resiliente”, e encontrei:
Que possui resiliência, capacidade de voltar à sua forma original, depois de ser alvo de deformação ou choque; flexível.
[Figurado] Qualidade de quem tem capacidade de se adaptar às intempéries, às alterações ou aos infortúnios.
[Figurado] Característica da pessoa que se recupera ou supera com facilidade os problemas que aparecem.
Que faz referência à elasticidade; elástico.
Ficou-me a incerteza se a “pesada palavrinha” foi usada em sentido figurado ou em sentido próprio, real, literal. Mas como, em geral, a “langage de bois” dos políticos NÃO é um delírio ficcional de requintada demagogia e treta, cingi-me, pela vacilação, ao imperativo apelo feito “valorizem-se os resilientes”, para tentar perceber e seleccionar entre as variantes:
Valorizem-se os flexíveis; ?
Valorizem-se os elásticos; ?
Valorizem-se os deformados; ?
Valorizem-se os resistentes às intempéries; ?
Valorizem-se quantos resistem ao infortúnio; ?
Valorizem-se os superadores de problemas… ?
Em aditamento, penso até que devemos também valorizar os “resilientes ao tacho”, aqueles que aos vivas à Democracia “entram na procissão” e, talvez debaixo do acolhedor pálio, atrás do cónego da diocese, aspergidos de água benta prosseguem na sua “elástica” e reiterada ladainha.
Há “resilientes” na política a ganhar 3 ou 4 vezes o que ganhariam na profissão honesta pela qual, in illo tempore, enveredaram.
Há outros, missionários da “res publica“, a arengar por praças públicas e romarias em busca da plausível justificação do “romano sal”.
Há outros que na política encontraram o protagonismo que nunca teriam nas suas acinzentadas e discretas vidinhas.
E etc. e tal.
Serão os “resilientes”?