“A ilusão que bem ilude não merece mais crédito que a verdade que mal veste.”
No prefácio de Aquilino Robeiro dedicado a Carlos Malheiro Dias, in “Terras do Demo” (Bertrand edit.), 1919.
António Almeida Henriques deve ter lido “Terras do Demo”. Damos-lhe o benefício da dúvida, porque é barato e somos generosos.
Dessa leitura inspiradora foi tirado o genérico para as suas crónicas semanais no tablóide CM.
Acreditamos – porque somos crentes – que ignorasse quais as “terras” a que Aquilino se referia. E das duas uma: ou se guindou, abusivamente, a voz dos concelhos de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, ou incluiu Viseu onde pontifica como autarca, nesse terceto, porque o nome lhe caiu no goto, porque bebeu um sugestivo espumante da cooperativa do Távora ou, porque a sua musa expiradora do marketing lhe sussurrou ser um bom título.
No prefácio que Aquilino dedica ao seu bom amigo Carlos Malheiro Dias, entre excertos muito acertados e verdadeiros, pode ler-se:
“A ilusão que bem ilude não merece mais crédito que a verdade que mal veste.”
E é neste provérbio popular que adequadamente se caracteriza e define parcialmente a praxis política deste autarca, que nos brinda quotidianamente com ilusões – como tal desacreditadas – tornadas em verdades que mal vestem, ou falácias adereçadas.
Se hoje as net redes sociais se tornaram em uso dileto de muitos comunicadores, nela já se podem constantemente ler imensas críticas aceradas e fundamentadas ao “trabalho autárquico” de seis anos por Almeida Henriques desenvolvido (ou a desenvolver?).
De um silêncio ensurdecedor e talvez expectante, passou-se, de súbito, a uma atordoante assunção da coragem de “dizer verdade”, escrever críticas positivas, denunciar situações anómalas e desmascarar casos, que pela forma como são entretecidos, conjecturamente se prestam a ser encarados como opacos, ou falhos da devida transparência.
Da Viseu Marca (estranha PPP do município com a AIRV do Cota) ao Vissaium XXI (onde por acaso e coincidência está também o omnipresente Cota), passando por algumas empresas “destacadas” neste executivo, até à “espanholização” de Viseu, que alienou por três décadas parte do seu solo à multinacional espanhola SABA, SA, gestora do estacionamento urbano, até à MUV (Mobilidade Urbana de Viseu), ao Centro Histórico, à descoberta recorrente de “cidades subterrâneas” multiseculares, ao Mercado 2 de Maio, ao Lusitano de Vildemoinhos, ao Património da Humanidade, às demissões em cadeia de colaboradores, das quais a mais gritante foi a do vice-presidente Joaquim Seixas, um homem sério e competente que de repente ali se terá sentido deslocado, à poluição do rio Pavia, ao problema do lixo urbano, às promessas incumpridas… é um nunca mais acabar de “inconseguimentos”.
Apesar da habilidade circunstancial e oportuna da “máquina de propaganda” montada no Rossio (sob batuta feérica do maestro Sobrado) que nunca percebemos cabalmente se actua para valorizar Viseu ou promover o seu “líder”, hoje, nesta cidade – excepção feita dos mudos e proliferantes agamelados – há uma consciência crítica desperta, a qual, com oportuna voz desnuda as verdades, dos seus amaviosos atavios que mal vestem…
Paulo Neto
(Foto DR)