Os emigrantes – Uma riqueza perdida…

Tenho tido a oportunidade de me deslocar com frequência, durante todo o ano, a várias localidades do interior de Portugal. Este mês de Agosto, por imperativos pessoais, tenho ido com frequência a localidades como Vila Nova de Paiva, Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira… Nada nestas vilas tem a ver com o restante do ano. Porquê? […]

  • 22:03 | Sábado, 18 de Agosto de 2018
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Tenho tido a oportunidade de me deslocar com frequência, durante todo o ano, a várias localidades do interior de Portugal.

Este mês de Agosto, por imperativos pessoais, tenho ido com frequência a localidades como Vila Nova de Paiva, Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira… Nada nestas vilas tem a ver com o restante do ano. Porquê? Porque estão cheias de gente…
No “cinquecento”, Portugal deu ao mundo “novos mundos” com as descobertas dos caminhos marítimos para a Índia e para o Brasil. Os nautas portugueses revolucionaram o mundo de então e nada mais foi como antes das suas arrojadas viagens.
Pessoa em A Mensagem, escreve-o assim, no poema da IIª Parte “Possessio maris” – Infante
 
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
 
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
 
Quem te sagrou criou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
 
Séculos após, Portugal voltou a dar à humanidade a maior dádiva de si: os seus filhos. Hoje, existem 2 milhões 266 mil e 735 emigrantes portugueses mundo afora, segundo as estimativas das Nações Unidas divulgadas no relatório de 2017.
Existem os portugueses emigrantes de 1ª geração e os de 2ª e 3ª gerações, luso-descendentes.
Outrora, muito centrada no continente Americano, hoje e desde meados de 60, a Europa é cada vez mais o destino dos portugueses, com França, Reino Unido, Suíça e Alemanha a serem os países com maior número de emigrantes.

(Faltam os dados de 2017)


 
O mês de Agosto é temporalmente a data das férias e do regresso à pátria – madrasta que os fez procurar fora o que não soube ou quis dar-lhes, como era seu genuíno dever. Pelas vilas e aldeias fora é uma alegria encontrar e abraçar os velhos amigos de há 30 anos, conhecer seus filhos e por vezes, até, seus netos. O movimento é grande, as festas são muitas, numa tradição calorosa de acolhimento. As casas fechadas abrem suas portadas. Os cafés, os supermercados, as ruas enchem-se de gente nova e bonita a dar um ar cosmopolita às nossas terras de comum tão tristonhas e soturnas.
Depois de “abrirmos” os mares ao mundo, demos ao mundo a nossa gente… E que bom seria se estes 2,3 milhões, por absurdo hipotético, regressassem à terra madre, perdoando-lhe a avareza madrasta e enchendo de “geniquentos” lusitanos, de provas inequivocamente dadas quanto às suas capacidades e qualidades, o quinhão deixado.
Seria o fim da hemorragia demográfica, da crescente desertificação, e se decerto outros problemas carreariam em si, as vantagens decerto os superariam com a vitalidade de toda esta “gente de luta”. Riqueza dos países que os acolheram. Pobreza do país que os perdeu…
 

(As fotos publicadas referem “bidonvilles” da década de 60, em França – DR)

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