Queixamo-nos frequentemente da mediocridade dos políticos. Porventura, vezes a mais. E porém, foram por nós eleitos, tendo os restantes, sido nomeados – por critérios vários – por quem elegemos. Regras elementares da democracia, baseadas na Confiança que depositamos em quem seleccionamos.
Contudo, a mediocridade da classe política é a consequência emergente de uma tipologia “profissional” de alguns valorosos “missionários” e milhares de penduras à boleia, conscientes de que a política partidária – não o nobre exercício de cidadania do homem da “polis” – é um reduto acolhedor para muito fabiano que não tem jeito nem competência para mais nada e nada mais anseia que ter notoriedade e algum poder.
Todo o sistema social e educacional que foi surgindo nas últimas décadas foi tendente a uma gradual desvalorização do saber, do mérito, do conhecimento, da valorização, da cultura, da ética. Como efeito, plurais serão as causas, provavelmente sobressaindo delas a inadequação humano-científica do Ensino aos tempos de hoje, diabolizando a Escola que deixou, para muitos, de ser a porta franca para o valioso mundo profissional.
Nas autarquias, felizmente que se criou uma limitação de três mandatos ou doze anos de função. Se não, corríamos o risco de ver alguns edis deste e doutros distritos a deixarem a “cadeira” aos 90 anos de idade. E se aumentou a esperança de vida activa, nesta “classe” muito desgastada, a perspectiva – só ao mero entrever dela – seria um catastrófico pesadelo.
Com o aproximar do dia 1 de Outubro, nesta correria autárquica, no sprint final, ergue-se o “vale tudo”. De uma grande parcela de candidatos – dos que estão aos que querem estar – tudo serve para se alcandorarem à missão. Desde as mais belas promessas de cartaz e microfone, aos mais baixos golpes desferidos com uma ferocidade tão inusitada quanto bestial.
Faltam pouco mais de dois meses para a meta. O espectáculo começa a ser colorido. Olhemos com atenção em derredor e percebamos o perfil dos candidatos, a “estética” das coreografias, cenários, guiões, interpretações e demais recursos técnicos… Nalguns casos, uma apalermada e paródica insensatez com uma ausência de lucidez paralisante.
Infelizmente, quase meio século após o 25 de Abril, o “povão” saiu da plateia, farto de tantas “remakes” com “partes gagas”, e se vai votar, na maior parte das vezes, só o faz norteado por um clubismo quase acéfalo, quando, para gerir as nossas autarquias, nunca deveríamos passar “cheques em branco” a um qualquer emplumado pavão, no seu premente e permanente ritual de enamoramento.
Não seja cúmplice…
(foto DR)