“Portugal foi o primeiro país a acolher estas crianças que ninguém quer (…)”
“Cada um dos rapazes trouxe apenas um saco como bagagem. É tudo o que têm. Dentro dele, trouxe uma bola. Era o mais importante que tinha. Todos gostam de futebol, todos conhecem o Ronaldo. Nos primeiros dias em Portugal jogaram à bola praticamente todos os dias.”
Os excertos, extraídos do jornal Expresso (22 de abril de 2017), referem-se a cinco afegãos, menores e sós, que chegaram a Lisboa. Alguns terão perdido os pais antes de fugirem do Afeganistão, outros durante a fuga.
O futebol é um desporto universal que gera muitas paixões e exerce uma enorme influência sobre os adeptos. Portugal tem uma grande tradição futebolística e exporta jogadores e treinadores para muitos campeonatos. Eusébio, Figo e Ronaldo são alguns dos mais notáveis embaixadores do nosso futebol dentro das quatro linhas, tal como o são José Mourinho e Fernando Santos, como responsáveis técnicos.
A conquista, pela seleção das quinas, do Campeonato da Europa, em 2016, projetou o futebol português para patamares nunca antes alcançados e talvez nunca imagináveis, especialmente depois de termos sido derrotados pela Grécia, na fatídica final do Euro de 2004, no Estádio da Luz. Uma conquista que colocou a seleção portuguesa no Olimpo e que deveria responsabilizar mais os agentes do futebol, desde logo, os dirigentes dos principais clubes.
Não há anjos e demónios no futebol, há pessoas que devem consciencializar-se das responsabilidades inerentes ao exercício dos cargos para os quais são eleitos pelos seus associados.
Desde a violência nos jogos dos escalões secundários, às agressões entre pais de jovens jogadores dos escalões de formação, até ao assassinato de um adepto, ao que tudo indica, por outro adepto, membro de uma claque, está tudo errado.
Temos assistido à escalada da violência, sem que, aparentemente, algo de contundente seja feito pelos dirigentes dos clubes ou pelo poder político.
As declarações de Luís Filipe Vieira, Bruno de Carvalho e Pinto da Costa, durante o fim-de-semana, fazem temer o pior.
Sinceramente, acreditei que estes homens percebessem que estão nas imediações de um paiol e que reforçassem as medidas de segurança. Mas não, as declarações proferidas são pirómanas.
Até quando? Será preciso morrer mais alguma pessoa? Os objetivos dos clubes estão acima da vida humana? As rivalidades não terão um limite legal e moral?
Senhores Presidentes, assim não! Não têm que gostar uns dos outros, mas têm a obrigação de ajudar a apagar o incêndio que alastra com consequências imprevisíveis.
Para reflexão:
“De acordo com vários meios de comunicação nacionais, adeptos do Benfica e do Sporting começaram uma guerra de pedras (…)
Foi na sequência destes acontecimentos que se deu o atropelamento de Marco Ficini que, de acordo com o Jornal de Notícias, foi encontrado sozinho, já sem vida, no local dos confrontos. O corpo do adepto italiano mostra sinais que indicam que o carro terá passado várias vezes por cima da vítima.” (Jornal i, 24 de abril de 2017)