Um respigo de História
Nesta Exposição, “a melhor de seu género que se tem realizado no nosso país” (sic) apresentava-se o que de melhor à altura detinham os diversos municípios convocados, artigos de “indústrias caseiras” ou de “outras indústrias”.
Há dias, voltejando velhos papéis dei por uma cópia do “Relatório” do Presidente (Dr. Alexandre de Lucena e Vale) da Comissão Executiva das Festas Centenárias da Província da Beira Alta que em Viseu tiveram lugar e princípio do dia 15 de Setembro de 1940 integrando o denso cerimonial que passava, entre outros actos, pela inauguração do Monumento a Viriato, do Padrão Comemorativo dos Centenários, Parada Folclórica, inauguração da Exposição Agrícola-Pecuária-Industrial, a primeira que teria lugar no recém-construído Pavilhão Provincial no Campo de Viriato.
Nesta Exposição, “a melhor de seu género que se tem realizado no nosso país” (sic) apresentava-se o que de melhor à altura detinham os diversos municípios convocados, artigos de “indústrias caseiras” ou de “outras indústrias”.
O município de Sernancelhe que também se apresentava na Parada Folclórica “com seu estandarte, Câmara Municipal e um casal característico”, limitado que estava em seus recursos, como antes ao convite respondera, envia à dita Exposição um conjunto pouco heterogéneo de produtos que reflectem o estado da sua economia de então, afeita à terra e ao gado, de que provêm as matérias-primas das indústrias caseiras da lã e linho derivadas.
Retrato que se colhe da enumeração de quanto para Viseu foi enviado e logo em Outubro retornou:
1 colcha de lã pertencente a Maria Ezequiel Sobral, de Sernancelhe;
1 colcha regional de duas faces pertencente a Capitolina F. Sobral, de Arnas;
1 colcha vermelha pertencente a Leandro Moreira Ramos, do Granjal;
1 colcha branca felpuda pertencente a José Carvalho de Sousa, de Sarzeda;
1 colcha branca [com] desenhos pertencente a Cecília Aguiar, de Sernancelhe;
1 colcha branca pequena pertencente a Valentim Ferreira Moutinho, de Sarzeda;
1 tapete de lã pertencente a Vitória Damião Lemos, do Granjal;
1 tapete de lã pertencente a Vitória Damião Lemos, do Granjal;
1 tapete de lã pertencente a Capitolina Fonseca Sobral, de Arnas;
1 tapete de lã pertencente a Isaac Moreira Pinto, de Ferreirim;
1 toalha de linho pertencente a Cecília Aguiar, de Sernancelhe;
1 estriga de linho em rama de Isaac Moreira Pinto, de Ferreirim;
2 rolos de linho pertencentes a Isaac Moreira Pinto, de Ferreirim:
1 taça pertencente a essa Câmara Municipal;
1 palhoça pertencente a António Carlos, de Sarzeda;
1 cesto pequeno que veio com castanhas, de Isaías Moreira Roque, de Sernancelhe;
3 cestos, sendo dois pertencentes a António Moreira Roque, de Sernancelhe e o outro a Bernardino José dos Santos, da Ponte do Abade;
1 guarda-joias e
1 floreira pertencente a José Roboredo Sampaio e Melo, de Sernancelhe.
Um retrato da terra que é também um retrato da gente, meia dúzia de proprietários abonados que associam, por vezes, à administração das terras, tarefas de amanuense na administração local, tesoureiro, oficial ou adjunto do notariado local, lavradores medianos, serviçais em contínua partida, migrantes do Douro na época da ceifa, da vindima, da vareja, homens e mulheres que alugam os braços, às vezes só em troca do pão que repartem com os filhos na inquietação do dia-a-dia.