Os “males ” de Trump
Na semana passada, Donald Trump tornou-se o 45.º Presidente dos Estados Unidos. É verdade que o empresário foi eleito democraticamente, pelo que tem toda a legitimidade para ocupar a presidência. Contudo, devo confessar que não me revejo nas ideias, no discurso e no estilo. O regime democrático deve estar atento e refletir sobre esta […]
Na semana passada, Donald Trump tornou-se o 45.º Presidente dos Estados Unidos. É verdade que o empresário foi eleito democraticamente, pelo que tem toda a legitimidade para ocupar a presidência. Contudo, devo confessar que não me revejo nas ideias, no discurso e no estilo.
O regime democrático deve estar atento e refletir sobre esta experiência e outras semelhantes que teimam em aparecer também na Europa. Com estes protagonistas, são os valores da verdadeira essência da democracia que se esvaziam e são substituídos pelos da força do dinheiro e do discurso populista e demagógico.
No caso em apreço, estamos perante um país que é a referência das liberdades individuais e dos direitos civis, pelo que deveria continuar a ter um tipo de presidência baseada no bom senso e na razoabilidade. Infelizmente, não foi isso que resultou das eleições.
Assim, o mundo deve estar preparado para o pior. Houve quem afirmasse que, depois de eleito, Trump mudaria o seu comportamento e abandonaria as suas propostas eleitorais radicais. Eu continuo a desconfiar deste otimismo.
Estamos perante um homem ultraconservador, sem experiência política, de difíceis consensos, truculento, que tem nos argumentos nacionalistas, sexistas e misóginos as suas referências em termos de valores. São ainda poucos os dias passados depois da tomada de posse como Presidente e todos os sinais parecem comprovar esta leitura através das posições que já adotou.
Estou a lembrar-me do discurso agressivo e sobranceiro face a outros governos, nomeadamente acerca da China e da Europa e de instituições como a Nato e a UE; do aplauso à saída dos britânicos da UE e do incentivo a que outros países o façam; da defesa de práticas comerciais e de políticas monetárias protecionistas, apoiadas por barreiras impostas às importações; da intransigência face à emigração e ao acolhimento dos refugiados; da desvalorização das políticas de apoio a jovens negros e latinos pobres e do fim do Obamacare e da reforma fiscal efetuadas por Obama.
Já não é preciso esperar muito para ver, com estas posições, que as reais intenções de Trump estão definidas. Agora, resta aos americanos e ao mundo o compromisso de não deixar concretizar aquilo que pode ser um retrocesso civilizacional.