A original Gotham City do DC Comics já pouco tem a ver com as versões finais dos filmes de Batman, cujo cenário inspirador foi Chicago.
A visão apocalíptica de uma América onde reina a criminalidade mais violenta, a droga, a prostituição, o submundo, os gangs, o crime violento e onde ulula pelas artérias uma escumalha sórdida e soez, ávida de mal, foi o cenário que o novo presidente dos EUA pintou no seu discurso de posse.
Provavelmente ele será o Batman salvador do caos em que as forças do mal mergulharam Gotham City, metáfora de todo o país. Mas prometeu e jurou que vai erradicá-lo, trocando as orelhas de morcego por um penteado louro de um capachinho ondulante e a máscara cinzenta por uma gravata encarnada, da cor dos Republicanos a que pertence. Os seus eleitores veneram-no (acto de adoração que tem origem em Vénus, deusa do amor, que também deu etimologia às maleitas venéreas) . O venerável chefe da Ku-klux-Klan já deu azo à sua euforia. Mais discreto foi o recém-erigido a herói Bob Dylan, o prémio Nobel que recusou ir recebê-lo, o contestário, o cantor da liberdade e o ícone do “peace and love”. Lá estava na posse a prestar vassalagem ao novo ícone- USA. Também o primeiro-ministro israelita esfuziou de júbilo, certo do poderoso apoio contra os palestinianos. Outrotanto a Marine do clã le Pen, dos “émigrants dehors”, na anestesiada Gáulia. Mas a leste do planeta, quem esboçou o sorriso mais mefistofélico e discreto foi o czar Vladimir, pois sabe – ou pensa saber – que na América do Norte, foi eleito pelo povo talvez um mutante transgénico fugido do Arkham Asylum.
Estranho mundo este onde a ficção se confunde com a realidade e onde a realidade se pode vir a transformar num pesadelo pior que a mais sombria ficção.
E se afinal o Batman tiver sido aniquilado pelo maléfico Joker, tão bem encarnado por Jack Nicholson, e das suas vestes se tiver apossado, criando assim um BatJoker imprevisível na sua demencial e populista demagogia?