É uma das frases mais comummente ouvidas. Não porque o tempo nos escasseie, sim porque nunca convém dar a entender que temos muitos tempos livres, muitas horas de ócio, que somos uns mandriões.
Fruir o tempo na amplitude das suas horas, dos seus dias é trabalho ao qual poucos nos damos neste sprint corrido até descarnar os tendões dos calcanhares. Porém, o tempo merece o nosso respeito, o nosso cuidado, até o nosso empenho.
Haverá um momento das nossas vidas em que sentiremos de uma forma já inexorável que o tempo nos é escasso. Escasso para cumprirmos tudo a que um dia nos propuséramos, para o consagrarmos a quem merece a nossa atenção, o nosso afecto, o nosso respeito. Curto para o saber, esconso para o ver, limitado para os sabores da vida.
O maganão não volta para trás, nem nos traz tudo o que perdemos, como anunciava o velho fado lusitano.
O valor que lhe negámos, um dia impor-se-á numa exigência já sem recurso. Percebemos então quão efémera foi a “passagem” e como desbaratámos tanto a correr atrás de tão pouco.
Os valores que albergamos e instituímos como cartilha maternal do nosso viver também se alteram, como se a consciência da finitude se fosse gradualmente delineando e passando da hipótese remota à certeza infalível.
A certeza de que cada dia que passa é um dia a menos no nosso calendário pessoal, cujas folhas, como no Outono, vão caindo por terra, concede-nos tardiamente a lucidez para olhar o tempo de frente, esquissar uma reconciliação, ter a serenidade para, finalmente, percebermos como e quanto desperdiçámos esse bem tão precioso.
Quanto aos que não têm tempo para nada, néscios, cumprem apenas a chapa 5 do seu viver cliché, feito de estereótipos vulgares e de uma ânsia de não aparentar o excesso de uma vida vazia, porque, assazmente, repleta, vivida e preenchida a fazer o que nos desconsola, com gente que nos desgosta.
Há-de ser percentualmente elevado o tempo que nos escasseará um dia, desperdiçado em actos e com “gente” tão distraída e imerecidamente dele alheia