Ontem o telemóvel tocou às 16:19. Era um desconhecido 91-qualquer-coisa. Atendi. O que nem sempre faço com números desconhecidos.
Sou o “Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda*”, ouvi do outro lado da linha. É para te dizer que tens que fazer uma correcção no artigo de opinião que publicaste no teu blogue. Se o Dão e Demo cometeu uma maldade comigo ao dizer que eu não tinha tido nenhuma intervenção no plenário, quero dizer-te que é falso. Eu tive uma! Eu falei 5 minutos sobre Segurança Social. Está no meu facebook. Há que corrigir!
Deixei-o embalar na desabrida toada de galope em que vinha, admirado pela intimidade do tu-cá-tu-lá que na minha insignificância não tenho com tão preclaros parlamentares, pois não andei com eles nas “jotas”, não fomos colegas de liceu, tertúlias e universidade, nem fizemos a tropa juntos e, no caso deste “Calisto Elói”, até tenho quase idade para ser seu pai. Espantei-me também com a irritação, o tom, a assertividade ameaçadora e a exigente demanda.
Calmamente retorqui-lhe que o blogue era uma plataforma de comunicação social (não sabem distinguir…), que o afirmado tinha sido tirado do site oficial da Assembleia da República, no dia 22 de Julho e que à data da consulta o que constava era que o “Calisto Elói” tinha zero intervenções.
Porque eu tenho tido intervenções em comissões e patatipatatá… E podes lê-las no meu facebook… insistia o agastado e nervoso parlamentar na sua ejaculatória desconexa.
Tomo nota, mas não me referi nem me interessam as intervenções em comissões, retorqui-lhe…
E aqui, perante a empafiada autocracia, fugiu-me a pouca tolerância, arredou-se-me a parca paciência que já tenho para “Calistos” e berrei-lhe às orelhas:
Não o conheço de lado nenhum, não lhe admito o tom intimidatório que está a usar nesta conversa, o senhor não me trata por tu porque não é gente com quem prive ou lide de perto e proíbo-o de me voltar a telefonar!
E vai daí, cortei cerce o desaguisado arrazoado e deixei o “Calisto” a falar para o vazio, desligando-lhe o telemóvel.
Atitudes deste teor em reação a um editorial do Rua Direita provam várias coisas, sendo as mais relevantes a certeza de acertar em cheio na mouche, de cravar o ferro onde dói, da arrogância desta gentinha e da mediocridade que a maior parte dela, por mais gravatas que apertem nas camisas brancas de circunstância e pins que coloquem nas assertoadas lapelas dos engomados fatinhos… não passam de uns tristes representantes desta condoída pátria, tão distantes dos José Estevãos e Bernardino Machados de outrora, parlamentares dignos da plena confiança dos seus votantes, argumentadores incansáveis e eloquentes na defesa das causas de seus eleitores.
E para acabar… já agora, porque havia eu de ser amigo deste indivíduo no facebook, quando recuso frequentemente pedidos de amizade de gente bonita e simpática, que nunca fez carreira na política partidária?
São uns deslumbrados, estes fulaninhos… enchicharrados na sua insignificância, néscios na presunção e péssimos no que espelham da Nação.
Talvez seja excepção e não regra, admito, porque estou bem-disposto e num dia optimista…
*Nota: Obviamente que o Calisto Elói é o protagonista de “A Queda de um Anjo“, de Camilo Castelo Branco, a quem o aqui visado nunca se assemelhará, nem sequer no anedótico da caricatura.Q