Supostamente a Barragem de Girabolhos iria começar em Março passado… A empresa adjudicadora foi a espanhola ENDESA. Houve um secretário de Estado a avalizar a obra, o do Ambiente, Paulo Lemos, que chegou a referir: “O diálogo entre os autarcas e a ENDESA tem sido exemplar e esta será uma obra, não só importante para a região, mas também para o país.” Por seu turno, o responsável pela ENDESA, Ribeiro da Silva, também não foi parco em elogios: “Este é um projecto de casamento para vida, pelo que todo o processo tem necessariamente de ser devidamente tratado, para que haja uma relação de grande confiança entre a empresa, os eleitos locais e as populações abrangidas pela zona envolvente da barragem.”
Pois sim!
Como podemos constatar, as palavras são bonitas, de ambos os lados, e colhem fundo na credulidade de todos. Porém, a realidade é a sua antítese: o investimento de 430 milhões foi cancelado pelo governo, que já recebera 47 milhões da concessão da exploração. Mais, esta obra, situada no alto Mondego, iria gerar 450 gigwatts/hora que é o equivalente ao consumo anual de 150 mil famílias e iria criar mil postos de trabalho directos e cerca de quatro mil indirectos. Frustradas estão todas as expectativas e o balde de água fria recebido pelos municípios de Gouveia, Mangualde, Nelas e Seia é mesmo arrasador.
Este projecto, juntamente com o da barragem de Alvito, no Tejo – também cancelado – integravam o Plano Nacional de Barragens e tinha sido lançado por José Sócrates. As duas barragens juntas superavam um investimento de 750 milhões de euros.
João Matos Fernandes, actual ministro do Ambiente reuniu hoje com os autarcas e promotores do projecto. Fala-se de “reavaliação” que é um mero eufemismo de “não, não há dinheiro para coisa nenhuma!”
Será este processo dito de “reavaliação” extensivo a mais o quê? Será que não há €€€ para cumprir os compromissos assumidos, nomeadamente os que dizem respeito ao interior de Portugal, cada vez mais castigado, penalizado e causticado com a eterna “crise”?
A descredibilização dos governantes é total. O problema é que estes ziguezagues caem, muito naturalmente, sobre as autarquias afectadas e, uma vez mais, destroem a possibilidade de fazer face aos inúmeros problemas com os quais já se debatem, desacreditando também todos quantos acreditaram na palavra dos “politiqueiros da treta” do poder local.
Do interior, está visto, esta malta só quer os votos de 4 em 4 anos…
(imagem DR)