O crítico Seabra é um homem competente no âmbito cultural. Fez a sua apreciação de uma figura pública, João Soares, enquanto ministro da Cultura. Um transparente direito.
João Soares, o ministro, não gostou, invocando rixas velhas. Assiste-lhe esse direito.
Seabra até vem da análoga família política de Soares. Não obstante, não se entendem quanto ao futuro da pasta até há minutos sobraçada por aquele.
Pulido Valente é um homem competente no âmbito cultural. Até já foi secretário de Estado dessa pasta, creio. Mas não deixou história. É um crítico notável e uma pena afiada. Por vezes mais molhada em “Cutty” do que em tinta permanente. Escreveu a sua opinião. É para isso que lhe pagam e fá-lo com autoridade e competência.
João Soares não gostou. Um direito que lhe assiste.
Contudo, João Soares é uma figura política nacional cujos actos são do domínio público. Mesmo os privados, pois está 24 horas/dia em escrutínio. Um ministro não despe a farda ao fim de 8 ou 9 horas de trabalho. Ela cola-se-lhe à pele… Mais ainda quando as responsabilidades são acrescidas pela progenitora ascendência.
Quer ter liberdade de expressão? Seabra e Pulido Valente também. E apesar de ambos terem os seus fiéis e de Seabra assumir como “blason d’honneur” que um seu escrito cinéfilo sobre um determinado filme leva 15 mil espectadores ao cinema, isso nada é comparado com a rotunda arqui-dimensão de qualquer ministro. E não precisa de ser das Finanças…
Porém, ameaçar com as ditas bofetadas, por mais queirosiano que o gesto lhe pareça ser, a descambar entre o ultra-romântico e o pré-realista, só que desta feita virtualmente, soa como ameaça do governo que integra, num todo coeso e colectivo. E um governo que ameaça é igual aos governos que reprimem – e contra os quais ele lutou. Como lutou e luta pelo direito inalienável à plena liberdade de expressão. Que Seabra e Pulido têm…
O resto é uma “boutade” sem sentido. Espécie de rábula entre Ramalho e Antero por uns brios de lana-caprina.
Costa esteve bem. Não protegeu “enfants terribles” nem avalisou práticas que, por precedência, se tornariam recorrentemente insustentáveis. Ficou bem no retrato e recebeu de bom grado o pretexto que lhe caiu nos braços abertos. Também, ao pedir desculpa pelo incómodo “prevaricador”, mostrou sensatez e reparou bem a hostilidade gerada. Com verdadeira ou falsa humildade.
Quem vem a seguir? Talvez o Sr. Lobo, da Fundação CGD, a Culturgest, quando já ninguém quer comer o Capuchinho Vermelho, ou melhor, agora que já não há Capuchinho Vermelho para comer…