O IMPRESSIIONANTE “MONTE DAS CRUZES”
Classificado como um dos lugares sagrados da Humanidade pela UNESCO, o impressionante Monte das Cruzes situa-se na Lituânia, um pouco a Norte da cidade de Szawle e foi ali que João Paulo II celebrou missa para 300 000 pessoas durante uma das suas viagens-peregrinação, em 1993. Provavelmente terá existido por ali algum culto não cristão que […]
Classificado como um dos lugares sagrados da Humanidade pela UNESCO, o impressionante Monte das Cruzes situa-se na Lituânia, um pouco a Norte da cidade de Szawle e foi ali que João Paulo II celebrou missa para 300 000 pessoas durante uma das suas viagens-peregrinação, em 1993.
Provavelmente terá existido por ali algum culto não cristão que se ignora, mas é ali que em 1430 é levantada uma capela encimada com uma cruz. Todavia a implantação de cruzes no local que, talvez só porque agora, com as cruzes, evoque a mística e real montanha do Gólgota, na margem de Jerusalém, se designou por Monte ou Montanha, quando a pequena elevação não ultrapassa dez metros de altura e um reduzido perímetro.
Ninguém sabe já quantas cruzes se implantam no local. Mais de cem mil, parecem ser, contadas pelos irmãos de um pequeno Convento Franciscano da vizinhança que toma conta do local e ali promove tanto a celebração de missas como de concertos alusivos.
A primeira cruz, logo seguida de muitas outras, foi ali colocada no último terço do século XIX quando a Lituânia intenta separar-se do domínio russo que castiga duramente os revoltosos desterrando-os em ciclos repetidos para a Sibéria. E os parentes destes exilados, que logo os consideravam mortos, implantavam ali, como memória, uma cruz que, se removida na noite, pelos usurpadores, logo outra ali se levantava.
E este movimento, em crescendo, vem até aos nossos dias. Porque há sempre mortos que chorar. Há sempre gente perseguida por razões de uma doutrina, seja ela qual for, que não volta ao seio da família ou ao chão da sua terra, há os fugitivos de malignos poderes que se afogam no mar ou rompem seus corpos em fronteiras cercadas por arame farpado ou balas de metralhadora, há gente que apenas requer um pouco de paz e ali ergue, como sinal, uma cruz, há gente que apenas requer uma bênção de um qualquer Deus de amor e ali, num dos braços da cruz que plantou, escreve uma oração, há gente que ali apenas deixa o seu rosário e as contas de que, sem culpa sua, será eterno devedor. Tanta gente que, se pudesse, ali iria também plantar a sua cruz.
Eu também. Também iria enterrar fundo, na Montanha ora sagrada, da longínqua Lituânia, esta cruz, multiplicada, que dia-a-dia dizemos que nos pesa.
Esta cruz, a última, que um amigo que até alguma vez chamei de meu “irmão”, esta cruz com que ele, tal e qual como um dia fez Pilatos, manda impor sobre meus ombros, esta cruz a desejaria ali plantar como sinal.